Vida é vontade de potência, de força, de luta, de combate (Nietzsche). Quem luta por uma revolução luta por uma forma de vida. E tudo que vive sempre quer ser hoje mais do que ontem. A própria essência da vida, sobretudo quando revolucionária, é o expandir, é o conquistar mais, ir mais longe, avançar, progredir, ocupar mais espaços, mais protagonismo.
Com a crise das ideologias (da direita e da esquerda, do comunismo, da democracia-liberal) abriu-se um vácuo no poder. Duas revoluções em curso estão querendo ocupar esse espaço. Tendo Demétrio Magnoli (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/demetriomagnoli/2019/03/para-paulo-entender-olavo.shtml) como ponto de partida, eis as duas visões de mundo (que não são, evidentemente, as únicas):
Paulo Guedes (PG) X Olavo de Carvalho (OC)
Paulo Guedes (PG) perguntou a Olavo de Carvalho (OC): “Por que o líder dispara contra a revolução que inspirou”? ? A revolução do OC não é a mesma revolução do PG. Mais: são coisas conflitantes, que estão em guerra. OC não é líder da revolução de PG.
PG defende o liberalismo econômico radical (Estado mínimo, fim do bem-estar social etc). ? OC defende um passado mítico, com soberanias absolutas, hierarquias patriarcais + liberdades naturais, como colono armado.
O liberalismo do PG é o do século 19, recrudescido a partir dos anos 70-80 (com Reagan e Thatcher). ? A revolução de OC inspira-se em algo muito anterior, perdido no tempo.
A Escola de Chicago é sua fonte (Milton Friedman é um dos guias). ? OC tem como fonte o conservadorismo europeu + o nativismo individualista americano.
“Dirigentes de empresa não podem ter nenhuma responsabilidade social que não seja dinheiro para os acionistas” (M. Friedman). ? É preciso combater o envenenamento cultural provocado pelas bactérias do Iluminismo. Daí nasceu a direita nacionalista (alt-right).
O liberalismo econômico radical é uma ideologia que não prega mudanças nos costumes. ? Os liberais globalistas (adeptos da globalização e do livre mercado mundial) estão associados aos “marxistas” e conspiram contra os povos.
PG não tem nada de marxista. ? Mas OC fuzilaria ele junto com os comunistas e marxistas (teoricamente).
O liberalismo de PG pretende a privatização de tudo, “tudo, tudo” (ele disse). ? A revolução de OC é um populismo fundado em valores tradicionais (família tradicional, patriarcalismo tradicional, nação unificada, etc).
Afirma-se que o Estado intervencionista é ineficiente e burocratizado. O Mercado seria lépido e criativo. Por si só resolveria os problemas da nação. ? A revolução de OC é uma guerra cultural permanente (não especificamente econômica). Não pode parar e assim mantém seus seguidores.
A economia deve ser liberalizada unilateralmente, estimulando-se a competitividade. ? OC clama por uma utopia: “a volta dos ponteiros da História a uma Idade de Ouro imaginária”.
Mercado acima de tudo, sem regulamentação. ? Deus acima de tudo.
Reformas da previdência e do Estado, corte de gastos, para que o Mercado tenha prosperidade total. ? Denúncia contínua dos “traidores da causa”, adeptos do “marxismo cultural”. A guerra permanente exige “atualizar o discurso das campanhas em todo momento”. Nunca deixa de ter um inimigo para manter acesa a chama ideológica.
Governabilidade regida pelas leis do mercado e da mão invisível que tudo soluciona. ? Perene ingovernabilidade (falta de coesão, perda da autoridade e da capacidade de agregação). Separar para mandar.
Reforma previdenciária como ato inaugural do liberalismo radical. ? Falta de coesão parlamentar e de consensos para aprovar reformas.
PG joga em favor do Mercado (que é um segmento elitizado da sociedade). ? O governo populista, patriótico e nacionalista dificilmente abandona seus seguidores fieis.
Uma terceira visão de mundo vem de Raghuram Rajam, da Universidade de Chicago, ex-economista-chefe do FMI e ex-presidente do Banco Central da Índia. Seu livro (O terceiro pilar) agrega ao Estado e ao Mercado a Comunidade. Trata-se de uma visão humanista (inclusiva) que vamos aprofundar em outro artigo.
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