Resumo: O objetivo deste artigo é oferecer aos colegas docentes do curso de direito, uma proposta metodológica à práxis pedagógica jurídica com base na teoria de Will Schutz. De acordo com esta teoria o processo de ensino deve centrar-se em incentivos ao desenvolvimento das relações interpessoais e do grupo na realização de atividades em sala de aula, pois as atividades de grupo é uma das formas mais produtivas de interação que oportuniza aos alunos buscarem um objetivo comum e desenvolverem ao mesmo tempo várias habilidades como ouvir, fazer e incorporar críticas, defender suas idéias, liderar e ser liderado na construção do (re) conhecimento e superação das dificuldades impostas pelas diferenças sócio-culturais, diferenças estas que são fatores impeditivos que se apresenta no avanço da qualidade do processo de aprendizagem nos cursos jurídicos.
Palavras chaves: docência, direito, metodologia, ensino.
The applicability of the Theory of Interpersonal Needs of Will Schutz to legal education.
Abstract: The intent of this article is to provide the teaching colleagues of Law course a methodological propose to the pedagogic practical based on Will Schutz´s theory. According to this theory, the educational process must be centered on stimulating the development of interpersonal relationships and the group´s class activities, therefore the classroom activities are one of the most productive ways of interaction which provides the pupils with a will of searching a common objective and to develop several abilities such as hearing, practicing and incorporating critics, defending their ideas, leading and being led on elaboration of their knowledge and overcoming the difficulties imposed by social cultural differences, which are an impeditive factor to the development of quality process on learning in legal courses.
Keys word - teaching, law, methodology, teaching.
A importância da teoria das Necessidades Interpessoais no contexto educacional.
Este texto faz uma abordagem sobre a teoria das Necessidades Interpessoais de Will Schutz, dos benefícios desta teoria aplicada à educação, e um questionamento sobre a possibilidade de adequação e aplicabilidade desta teoria à metodologia do ensino jurídico.
Will Carl Schutz foi professor da Universidade de Harvard e desenvolveu a teoria das Necessidades Interpessoais na década de 50, na qual defendia a idéia de que a aprendizagem ocorreria melhor a partir do momento que os indivíduos se relacionassem melhor dentro do contexto de cada novo grupo e novo ambiente de estudo, e que esta interação ocorreria melhor através de atividades em grupo motivados pelo professor como centro orientador e participativo destas interações.
Inovou no campo da educação com esta teoria, pois provou que os membros de um grupo não acatam em integrar-se senão a partir do momento em que certas necessidades fundamentais e pessoais fossem satisfeitas pelo grupo; e que estas necessidades só podem ser satisfeitas em grupo e pelo grupo. Estas necessidades foram classificadas de afeição, controle e inclusão.
É oportuno questionar a aplicabilidade desta teoria ao ensino jurídico, pois estamos vivenciando um período de críticas quanto a qualidade e avaliação do ensino superior com objetivo de atingir mudanças na educação para melhores resultados no exames do ENADE e OAB (para os cursos de direito), que atualmente demonstram em o baixo nível de aprendizagem no ensino superior, resultados estes atribuídos a vários fatores como baixo grau de conhecimento do aluno ingressante, excesso de formandos, estrutura física institucional inadequadas e a falta de qualificação dos professores.
Com relação a um dos itens de avaliação, ‘o professor’, embora seja um dos elementos envolvidos, é um dos eixos estruturais deste processo de mudanças e melhorias na qualidade do ensino, razão em que se sustenta a ação do MEC, que passou a avaliá-lo com critérios rígidos quanto ao currículo e desempenho.
É aqui que este texto pretende colaborar no sentido de proporcionar uma alternativa na ação pedagógica que possa dar mais suporte ao professor de direito com relação ao método de ensino baseado na teoria de Schutz. Se o professor planeja e aplica diferentes métodos em busca de respostas de aprendizagem satisfatórios, ele necessita conhecer uma gama de possibilidades diversificadas para serem usadas quando outras não derem os resultados esperados, e esta metodologia aqui proposta demonstra, através dos estudos de seus precursores, uma técnica de ensino que traz bons resultados porque se baseia em atividades que valoriza o indivíduo e o grupo em que está inserido.
Para subsídio de adequação desta teoria, o professor deve contar com as ações didáticas e planejamento. Pilleti (1986, p.343) defende que:
A didática tem como objeto específico a técnica de ensino. A didática geral estuda os princípios, que devem regular o ensino e a didática especial estuda aspectos científicos de uma determinada disciplina ou faixa de escolaridade.
Segundo a teoria de Will os indivíduos desenvolvem o aprendizado melhor e mais rápido se trabalhado em forma de atividades em grupo. Vejamos a importância do significado de grupo, sua formação e estrutura na opinião de Moscovicci (1996 p. 30) afirma que:
O grupo não é a simples soma de indivíduos e comportamentos individuais. O grupo assume uma configuração própria que influi nos sentimentos e ações de cada um. A passagem do individual para o coletivo ainda encerra mistérios e pontos obscuros não desvendados pela ciência.
Sustenta ainda o autor, que o indivíduo tenha equilíbrio para ocorrer bons resultados de aprendizagem. Aduz que o nível sócio emocional pode favorecer ou prejudicar o andamento das tarefas, dos resultados do trabalho em conjunto, e das relações interpessoais que se formam e desenvolvem. (Moscovicci, 1996 p. 31-32).
O aspecto valorativo para o trabalho em grupo ou equipe, também é ressalvado pelo autor cubano Gimenez Serrano (2003 p.64) que descreve sobre as ‘Técnicas Grupais’, como uma das formas metodológicas dentro das novas correntes educativas. Afirma que:
O trabalho em grupo deve ser desenvolvido pelo uso das técnicas grupais que possibilitam o intercâmbio de critérios entre os estudantes, ensinando-os dessa forma, a pensar com independência e a considerar e defender seus critérios, buscando soluções em grupo.
Será que esta teoria embasada em técnicas de ensino com atividades em grupo, é aplicável a alunos do curso superior de Direito?
O professor Massetto (1992) reafirma a necessidade de se estabelecer um contato psicológico na educação do adulto do ensino superior. Nestes contatos, o professor e aluno são colocados frente a frente, adequando suas expectativas, dialogando sobre as necessidades do aprendiz e as propostas do professor. Esta estratégia vem demonstrando uma das formas mais efetiva de se estabelecer um diagnóstico das necessidades de aprendizagem.
De acordo com Gimenez Serrano (2003) existem variadas técnicas grupais: promoção ou tormenta de idéias, entrevista simples ou coletiva, debate em grupo e dramatizações/ simulações de fatos ou situações concretas, reais ou hipotéticas.
Observando as opções de técnicas e atividades em grupo descritas por Serrano, é possível adaptar e aplicar esta teoria do campo da psicologia ao curso de direito, pois existem inúmeros temas que se podem usar nestes debates como interpretação de leis com base em fatos reais ou fictícios, onde os alunos podem buscar soluções e respostas aos problemas interagindo com os colegas.
Mas qual a importância do grupo sobre o aprendizado do indivíduo? Como se deve orientar a formação e estrutura destes grupos para que possam desenvolver o potencial de cada um dos seus componentes? Qual o papel do professor ao utilizar esta técnica de ensino e quais os resultados que se pode esperar?
OS GRUPOS COMO FATOR DE SUCESSO NA APRENDIZAGEM.
Dentro da perspectiva da teoria de Schutz o foco deve voltar-se a valorização do grupo como um todo. Para isso deve usar técnicas grupais, conforme orientação do professor Gimenez (2003, p.65): “O professor deverá diagnosticar e conhecer a psicologia própria de cada grupo, assim como os princípios que regem a dinâmica grupal a fim de poder orientar as relações interpessoais e controlar o trabalho das equipes”.
A sala de aula como espaço de vivências, na opinião do professor Marcos Masetto (1992, p.73) “condiz com as pesquisas que salientam as estratégias incentivadoras da integração do grupo como facilitadores da aprendizagem”.
Masseto (1992) descreve muitas vantagens e benefícios quando se realiza trabalho em grupo, pois estas atividades oferecem várias oportunidades de estabelecer amizade, troca de idéias e opiniões, desenvolver habilidades necessárias à prática da convivência com as pessoas; completar, enriquecer experiências, desenvolver senso de responsabilidade e respeito pelas diferenças individuais; treinar capacidade de liderança e aceitação do outro, e ainda desenvolver senso crítico e cooperação.
Estas habilidades descritas por Masseto, aliada às de mediar conflitos e tomar decisões são características necessárias ao aluno de direito. A solução de um problema pode ser dificultada por fatores pessoais mal resolvidos na idade infantil ou adolescência. Este fator, aliado ao excesso de ansiedade, ou falta de motivação, dificuldades em processar informações e os déficits em habilidades sociais podem prejudicar o desenvolvimento da aprendizagem já na fase adulta. Por isso o autor ressalva a importância da “expressão do sentimento positivo e da amizade que se pode desenvolver em sala de aula, propiciando melhores condições de ensino – aprendizagem”. (Masseto 1992 p.99).
FORMAÇÃO E CONTROLE DOS GRUPOS.
É possível afirmar que toda turma tem comportamento diferente em relação aos colegas. Há turmas que desde o início do primeiro ano pode-se observar que há um entrosamento com os colegas e maior participação nas aulas, e este ‘coleguismo’ segue até fim de curso, no entanto, podemos também observar que há turmas que não se entrosam e assim inibem a participação dos demais, formando muitas vezes pequenos grupos fechados durante as atividades em sala.
Na opinião de Navarro apud Luiz Maccione (1989 p.24), a formação dos grupos se apresenta nas seguintes etapas: “Grupos formados no início do ano letivo – são os grupos fixos formados para todas as atividades escolares”; Grupos formados no início de cada lição são: “Os grupos móveis formados no início de cada lição e grupos formados especialmente para o estudo de certos problemas, algumas vezes sistematicamente outras ocasionalmente”.
Para o professor Piletti (1986, p.14), a formação do grupo pode ser espontânea ou dirigida. “É espontânea quando os alunos se reúnem livremente, seja por aproximação física na sala de aula, por afinidade e preferência pessoal”. A formação do grupo é dirigida “quando os alunos se reúnem por determinação do professor, assim o professor estabelece alguns critérios e elementos para formação dos mesmos”.
A autora Luiza Navarro considera uma idéia próxima do professor Pilleti, mas acrescenta que além de poder ser espontânea e dirigida, a formação do grupo pode ser “imposta pelo professor de acordo com critérios de sorteio, ordem alfabética, aptidão, idade ou outros elementos; sem imposição do professor, apenas sugestão ou através da formação livre e espontânea devida a iniciativa dos próprios alunos”. (Navarro apud Maccione 1989, p.24).
Acrescenta nesta classificação um fator importante que é quanto ao número de alunos por grupo. Esta questão poderá influenciar no processo aprendizagem podendo ser de acordo com a idade: aos mais novos prefere agrupar-se entre cinco ou seis elementos, enquanto aos mais velhos entre dois a quatro elementos; de acordo com assunto a ser tratado: independentemente da idade, mas relacionando-se ao tipo de atividade o número de elementos podem aumentar ou diminuir ou ainda; de acordo com disponibilidade de material ser manuseado, o número de elementos também podem variar. (op. cit. 1989, p.25).
Assim, ao propor atividade em grupo devemos observar se o grupo já comporta condições de exercerem as escolhas dos parceiros de forma livre e sem prejudicar algum companheiro que esteja recém chegado, ou que apresenta dificuldade em comunicar-se, o que estaria inibindo o sucesso da aprendizagem. Em caso de concluir que não estão em condições de deixarem a ‘panelinha’ de lado, é indicado ao professor orientador que estabeleça critérios na hora de formar os grupos.
Gerald Mailhiot (1977 p.123) chegou à conclusão de que os grupos passam por estruturação necessária que devem ser observadas pelo professor, sendo elas classificadas da seguinte forma quanto à formação do grupo e da estrutura.
Quanto à formação do grupo, destaca que para formação dos pequenos grupos existem variáveis e constantes que são fatores afetivos e inconscientes na determinação da liderança e orientação dos trabalhos do grupo determinando alterações em seus resultados.
As variáveis são os aspectos que determinam o líder, e as relações deste com os liderados, bem como a razão que uniu os participantes do grupo, se por razão de interesse pessoal, se imposto ou satisfação interpessoal. Quanto às constantes, dizem respeito à competência e habilidade de realizar as tarefas propostas proporcionando ao grupo, segurança recíproca e necessária à sua integração.
Existem dois tipos de inaptos para esta atividade: O inapto situacional que não consegue se integrar por não sentir atrativo pela tarefa ou pela estrutura do grupo, que não lhe permite ser aceito e criativo, e o inapto caracterial, que é aquele que apresenta o seguinte traço de caráter: qualquer que seja o grupo, o líder ou a tarefa, eles se tornam logo compulsivamente contra- dependentes em relação às figuras de autoridade e agressivos a relação aos membros da equipe. Estes quando na posição de líder, podem tornar-se autocrático e abusivo no exercício do poder, não possuem empatia ou auto-empatia, com mania de grandeza e perseguição.
Quanto à estrutura do grupo é necessário observar, com bases nos estudos de Gerald M. (1977 p.127) o tamanho, a composição e a organização dos grupos.
Quanto ao tamanho: quanto maior o tamanho e numeroso for o grupo, maior a dificuldade de se estabelecer a autoridade. Quanto à composição: as variáveis que compõem o grupo são: sexo, idade, cor, clero e experiência no assunto. Quanto mais homogêneo o grupo maiores as chances de resultados positivos para o grupo.
Já quanto à organização do grupo: o grupo precisa se organizar quanto à estrutura de poder e de trabalho. Estrutura de poder serve para estabelecer para quem e sob quem se trabalha. Na estrutura de trabalho se define as tarefas distribuídas entre os membros.
O grupo, para favorecer e assegurar o crescimento com eficiência necessita ultrapassar barreiras que conforme estudos de Mailhot (1977 p.132) são compostas por três fases: individualista, fase de identificação e fase de integração.
A fase individualista cada indivíduo inicialmente tende a querer se auto afirmar como indivíduo. Esta fase perdura até que todos se sintam aceitos. O líder não deve acelerar ou frear esta fase,pois ela é importante no processo de integração do grupo, assim a primeira tarefa do grupo e aceitação mútua. A fase da identificação é a segunda fase, pois quanto mais heterogêneo for o grupo, mais esta fase tem tendência de se prolongar. Isto ocorre por que antes de se sentirem aceitos pelo grupo de forma individualista, eles formam os subgrupos. São os que se sentem minoritários no grande grupo, e não se sentem parte do grupo nos momentos de decisão. A fase da integração ocorre quando todos se sentem aceitos pelo grupo e mais cedo ou mais tarde conseguirão efetivar as tarefas com sucesso e solidariedade.
Entendemos que a partir destas citações, podemos concluir que os grupos poderão ser formados de forma espontânea, quando já houver condições diversas para esta formação, e na falta deverão ser dirigidas as formas de união para melhor interação dos indivíduos para estruturar futura formação livre. As três fases observadas por Mailhiot têm estreita ligação com a teoria de Schutz que alega a necessidade do grupo em interagir através da sucessão de fases de interação que são as de controle, inclusão e afeição.
Para que as atividades de grupo tenham sucesso e os membros do grupo possam usufruir desta modalidade de ensino, é necessário observar o aspecto da integração destes membros através do despertar da liderança.
Esta questão da liderança é “um mito que apenas um ou poucos membros do grupo tem condições de exercer liderança, pois há diferentes necessidades, atividades e momentos na vida de um grupo a respeito da liderança”. (Andreola 2001 p.33).
Segundo Weil (1967 p.63) sobre a questão da liderança:
A capacidade de liderança não seria inata, ela pode ser desenvolvida, assim qualquer potencial do indivíduo pode ser transformado em uma liderança. A liderança não se adquire, se desenvolve através do professor, líder ou dirigente, que pode descobrir capacidades intelectuais nas pessoas e proporcionar situações para suas habilidades aflorarem. Assim, líder (definição de Relações humanas) “é todo o indivíduo que graças à sua personalidade, dirige um grupo social com a participação espontânea dos seus membros”.
Com uma sequência de trabalhos em grupo, é comum formar os grupos fechados ou grupos repetidos conhecidos por ‘panelinhas’. Como tratar das ‘panelinhas’?
Professor Andreola (2001 p.19) recomenda que “não se forme grupos a partir da formação natural e espontânea, e nem forçada ao extremo. Cabe ao professor observar o tipo de atividade proposta para não dificultar a interação dos membros dentro do grupo”. Se for uma atividade de campo, a formação natural vai facilitar a comunicação entre eles, já para a formação dirigida é conveniente para atividades em sala de aula como sistema GV- GO.
Se o grupo não estiver habituado com os demais colegas, for um grupo inicial é necessário observar algumas cautelas como dispor as cadeiras em círculos e demonstrar visualmente em cartazes a dinâmica a ser aplicada. Umas das atividades recomendadas são as de biografia e autobiografia.
Já para as turmas que já se conhecem e falta integração com o grupo de trabalho é interessante atividade que fortaleçam as impressões positivas de cada membro com respeito ao outro. Exemplo para esta situação seria atividade de entrega de mensagens que cada um recebe e escolhe alguém do grupo para entregar e valorizar suas qualidades.
Para grupos que já estão trabalhando um tempo maior junto como em uma turma de sala de aula, a integração e as etapas de liderança já ocorreram, assim é possível proporcionar possibilidades de discussão, e amadurecimento das relações. As atividades propostas devem oportunizar que cada membro possa colaborar com sua opinião e ouvir as opiniões divergentes para concluir e chegarem ao um consenso. (Para desenvolver o raciocínio, flexibilidade mental e debate, podemos exercitar os jogos de painel duplo, júri simulado e atividades que exercitem a criatividade como técnicas de brainstorming.
O PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM NESTA TEORIA
Para Gimenez Serrano (2003 p.04), ensinar significa: “Facilitar aprendizagem. Saber ensinar é saber conduzir o processo de aproximação do homem à realidade em que ele vive e se desenvolve. Ensinar é Educar, instruir ou iniciar alguém no conhecimento”. Com relação a atividades de ensino em grupo, emite opinião favorável quando afirma:
A aprendizagem tornar-se mais eficiente quando desenvolvido levando em conta os seguintes aspectos fundamentais: os interesses dos estudantes, os objetivos do professor, e o valor do trabalho em grupo. Para que alguém aprenda é necessário motivação, assim cabe ao professor providenciar a adequada motivação através de recursos e métodos didáticos favoráveis à aprendizagem. Assim entre aprendizagem e motivação existe mútua relação. (Gimenez Serrano 2003 p.08).
Zayas (1999, p.39) destaca que:
Para lograrse un hombre instruido, desarrollado y educado, se requiere de un proceso-docente-educativo al menos a un nivel de asimilación productivo, pero además motivado, afectivo, emotivo que estimule a los escolares y los incorpore conscientemente a su propio desarrollo.
O professor Pilleti (1986 P.233) acrescenta que para efetivar a motivação, o principal instrumento a ser utilizado é o próprio professor. A realização do ensino depende deste, da sua ação didática ao conhecer o alunado, e ao adaptar os conteúdos. Motivar o ensino é torná-lo tanto quanto agradável e interessante.
A motivação consiste em apresentar a alguém estímulos e incentivos que lhe favoreçam determinado tipo de conduta. Em sentido didático consiste em oferecer ao aluno os estímulos e incentivos apropriados para tornar a aprendizagem mais eficaz. Os recursos didáticos, os procedimentos de ensino, o conteúdo, as atividades são valiosas fontes de incentivo.
Juntamente à teoria de aplicabilidade de ensino através de atividades que favoreçam e valorizem a troca de conhecimentos em grupo importante destacar os estudos de Dinah Martins Campos, que organizou e sistematizou algumas das principais teorias da aprendizagem baseadas em diferentes concepções do homem e do modo como ele aprende a importância do grupo e o processo de sua formação. Defende a tese da existência de três concepções: Inatista, ambientalista e a Interacionista. (Campos 1989 p.162 e seg.).
A Concepção Inatista se origina na teologia, pois se acredita que Deus ao fazer o Homem já o fez de forma definitiva e que o destino de cada um ao nascer já estaria determinado por ele. Entendem que fatores ambientais não são capazes de exercer um efeito direto no organismo.
Com relação a Concepção Ambientalista conceitua aprendizagem como uma mudança na probabilidade de resposta. Na maioria dos casos, esta mudança é determinada pelo condicionamento operante. Esta concepção dá importância ao meio ambiente como determinante do comportamento, aliás, seriam os estímulos presentes numa determinada situação que levariam ao aparecimento de um determinado comportamento. O papel do professor nesta concepção é valorizado, pois é dele a responsabilidade de planejar, organizar, e executar as situações de aprendizagem. (Campos 1989, p.191)
Para a Concepção Interacionista, a aprendizagem é como um processo de relação do sujeito com o mundo exterior. É um elemento que provém de uma comunicação com o mundo e se acumula sob a forma de uma riqueza de conteúdos cognitivos. O indivíduo adquire assim um número crescente de novas ações como forma de inserção em seu meio. (Bock, 1999).
O professor deve criar situações em que o aluno sinta-se desafiado e que possa relacionar o conhecimento que construiu com as experiências da escola, utilize em estilo de linguagem acessível, conhecida e familiar para favorecer a compreensão e construção dos conteúdos relacionados. O erro na verdade deve ser um feedback, isto é, uma forma do professor avaliar como o aluno pensa, percebe e constrói seu conhecimento.
Sônia Tovar afirma que:
É importante compreender o modo como as pessoas aprendem e as condições necessárias para a aprendizagem, bem como identificar o papel de um professor nesse processo. Estas teorias possibilitam a este mestre adquirir conhecimentos, atitudes e habilidades que lhe permitirão alcançar melhor os objetivos do ensino. (1990, p.30)
As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento, mas basicamente, identificação pessoal e relação através da interação entre as pessoas.
As influências de Piaget e Vygotsky, no campo da prática educacional, são muito intensas. No entanto, as importâncias de suas conceitualizações ultrapassam esses momentos específicos de desenvolvimento humano, constituindo uma abordagem pedagógica influenciadora da prática educacional em todos os segmentos.
Para Piaget, o principal era “analisar como tem origem e evolui o conhecimento”. Seu interesse era, portanto, epistemológico. O interesse piagetiano pela epistemologia nasce de suas preocupações de biólogo: a evolução, a interação com o meio, a gênese das estruturas. “O desenvolvimento cognitivo é um processo social e a interação com outras pessoas tem importante papel no desenvolvimento das operações lógicas”. (Piaget in Tovar 1990, p.37)
De acordo com esta corrente, o papel do professor “é o de auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo do aluno, liderar as atividades do grupo, criar atividades diversificadas e provocadoras; incentivar o trabalho independente do aluno”. A educação deve ser sempre voltada para a autonomia, sempre estimulando no aluno sua noção de responsabilidade e sua capacidade de crítica. (Goulart, 2000)
Para Vygotsky, (2001) o processo de formação de pensamento é despertado e acentuado pela vida social e pela constante comunicação que se estabelece entre crianças e adultos, a qual permite a assimilação da experiência de muitas gerações. Ele tem um modo próprio de entender a educação.
A heterogeneidade, característica presente em qualquer grupo humano, passa a ser vista como fator imprescindível para as interações na sala de aula. Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências, trajetórias pessoais, contextos familiares, valores e níveis de conhecimento de cada aluno (e do professor) imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de repertórios, de visão de mundo, confrontos, ajuda mútua e conseqüentemente ampliação das capacidades individuais.
A TEORIA DAS NECESSIDADES INTERPESSOAIS DE WILL C. SCHUTZ.
Destacamos no início, que este texto tinha por objetivo proporcionar subsídio teórico de uma proposta metodológica aplicável ao ensino jurídico. Vejamos agora um pouco mais das características desta teoria e a sua estrutura formativa.
Para o prof. Del Prette (2001, p.20), “O interesse da psicologia pelas relações interpessoais é, pode-se dizer tão antigo quanto à própria formação dessa disciplina. Tendo o problema das relações interpessoais como eixo central”.
Os direitos interpessoais correspondem à aplicação na interação social, dos direitos humanos básicos, entendendo-se que eles são válidos para todos e que cada direito corresponde a um dever: “O direito de expressar nossas opiniões corresponde ao dever de respeitar as opiniões dos demais; o direito de pedir o que se quer implica o dever de respeitar o direito de recusa do outro e assim por diante”. (Del Prette, 2001, p.36)
De acordo com teoria de Schutz (1994) a aprendizagem ocorrerá mais facilmente a partir do momento que os indivíduos passarem a ter melhores relações dentro de um grupo. Mas para chegar à fase ou etapa em que ocorre melhor esta de integração o grupo passará por outras de transição chamadas de fases de inclusão, controle, e afeição.
A Necessidade de Inclusão é a primeira a surgir quando se ingressa em um grupo. É a necessidade de se sentir integrado, valorizado e de ser aceito, de também ser distinto dos demais. Nesta fase não há formação de vínculos emocionais fortes, pois, primeiro o indivíduo procurará indícios de que não é marginalizado pelo grupo.
É geralmente no momento de tomada de decisões que esta necessidade procura ser satisfeita de maneira imperiosa. “Esta necessidade é a expressão do desejo que experimenta todo membro de um grupo de possuir um status positivo e permanente no interior do grupo, e não se sentir marginalizado em momento algum”. (Maillot 1977, p. 67)
Neisa Cunha (1999) apresenta em síntese que, nesta fase de inclusão, os comportamentos característicos são: “descobrir quem é o outro, interagir, ser único, individual, desejo de pertencer a pequenos grupos, querer estar dentro do grupo, não querer dominância, mostrar o lado positivo de suas características pessoais”.
Para a fase de Inclusão, Weil (1967, p.50) descreve que o comportamento observado em sua pesquisa se traduz nos seguintes resultados: “Na fase de Inclusão a auto-estima é baixo, o comportamento é caracterizado pela ansiedade e pode assumir duas formas: o subsocial ou pouco social e ultra-social ou super – social e o social”.
O comportamento do indivíduo sub-social ou hipossocial é introvertido e retraído. Já o indivíduo ultra-social, ou hiper social, apesar de ter os mesmos pensamentos inconscientes pouco sociáveis manifesta-se ao contrário, é muito extrovertido, procura outros incessantemente, não suporta ficar só, chama atenção para si exibindo-se ao grupo, força sua entrada ou através do poder ou através da afeição seria o aluno palhaço que em sala de aula nada mais quer do que chamar atenção sobre si mesmo que de forma negativa; e os indivíduos sociais, aqueles que tiveram suas relações de inclusão bem resolvidas na infância, se saem muito bem com outras pessoas.
Quanto a necessidade de Controle surge depois que o indivíduo encontra seu lugar, cada membro do grupo passa a interessar-se pelos procedimentos que levam às decisões entre as pessoas na área do poder, da influência e da autoridade. É interessante observar que a necessidade de controle varia desde o desejo de controlar ao desejo de ser controlado, isto é, o indivíduo pode desejar poder e autoridade ou desejar ter as responsabilidades tiradas de cima dele. Nesta fase de controle o indivíduo apresenta necessidade que implica o respeito pela competência e pela responsabilidade alheia, e a consideração alheia da própria competência.
Na zona de controle, Weil (1967, p. 49) destaca dois extremos: “autocrata aquele indivíduo cujo comportamento interpessoal é dominador ao extremo, abdicrata aquele que chega ao extremo de renunciar e o democrata é aquele que resolve sozinho”.
Esta fase de ‘controle’ se apresenta freqüentemente conturbada por causa da dificuldade na comunicação, aparecem as disputas pessoais pela liderança e surgem as facções e subgrupos que eventualmente por conveniência podem fazer coalizões.É nesta fase em geral que os membros observam o funcionamento do grupo e aprendem quais são as normas que começam a se estabelecer.
Já com relação a necessidade de Afeição é a última fase a surgir no desenvolvimento de um grupo. O afeto se baseia na construção de vínculos emocionais e é quando as pessoas começam a expressar e buscar a integração emocional. Pode ser a fase mais produtiva do grupo já que houve um avanço na sua relação de confiança mútua, no nível de respeito, de aceitação de seus membros e na tolerância às diferenças individuais.
Resumidamente, podem-se citar alguns dos principais sentimentos e comportamentos característicos desta fase: afetividade, ligações e interações mais profundas, maior disponibilidade para o grupo, feedback, encontro com o outro mais verdadeiro e respeito às normas e regras das relações.
Considerando aqui estas características da teoria, é possível visualizar sua aplicabilidade e adequação ao curso de direito como a qualquer outro curso por tratar-se de uma teoria baseada no comportamento social do individuo e suas necessidades básicas de relacionar-se com os demais.
Considerações finais.
O professor pode e deve buscar formas diferentes e inovadoras na atuação profissional, muito mais agora diante da necessidade de submeter-se a constante avaliação de seu desempenho como professor. O ato de planejar a escolha de conteúdo, método e técnicas de ensino deve estar atrelado a realidade e necessidades singulares em cada turma. Cabe ao professor a missão de resgatar no aluno o prazer de aprender com seus professores e colegas em uma constante troca de informação e experiência que se traduz em aprendizado independente de qual área de ensino se dedique.
Quanto a proposta metodológica de Will S. sugerida neste texto, entendemos ter aplicabilidade aceitável ao curso de direito, mesmo sendo este (curso de direito) construído em alicerce tradicional de ensino, pois entendemos que esta interação poderá contribuir para obtenção de resultados favoráveis ao desenvolvimento do relacionamento do grupo e dos indivíduos que o compõem superando dificuldades várias que impedem o crescimento intelectual e cultural da turma.
Nossa pretensão aqui foi demonstrar aos colegas docentes do direito a viabilidade teórica de se realizar a práxis pedagógica do ensino jurídico aplicando a teoria de Will Schutz, que defende um ensino à base de ‘estímulo’ e ‘motivação’ com a valorização, formação e fortalecimento das relações interpessoais e do grupo e com isso favorecendo diretamente as condições ideais de realização profissional com sucesso na educação.
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ZAYAS, Carlos M. Álvarez de. Didáctica La Escuela En La Vida .3ª ed. Havana, 1999.
Graduada em Pedagogia pela Universidade de Cuiabá (2002); graduada em Direito pela Universidade de Cuiabá (1994);Especialista em Direito Empresarial (1996);Especialista em Direito Processual Civil (1997); Especialista em Docência do Ensino Superior (2005). Mestre em Educação pela Universidad Marta Abreu de Las Villas - Cuba (2005). Mestre em Educação Universidade Oeste Paulista- Unoeste ( 2010), doutoranda em Direito Universidade de Burgos Espanha (suspenso) e Doutoranda Educação Instituto de Educação Universidade de Lisboa. Professora no Estado de Mato Grosso desde1989 ensino básico e EJA, Docente do Ensino Superior desde 2000 com disciplinas de Direito Consumidor, direitos autorais e Falência. Atua como advogada em Direito Empresarial .
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: BARROS, Jessika Matos Paes de. A Aplicabilidade da Teoria das Necessidades Interpessoais de Will Schutz ao Ensino Jurídico Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 24 jun 2009, 07:33. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/coluna/313/a-aplicabilidade-da-teoria-das-necessidades-interpessoais-de-will-schutz-ao-ensino-juridico. Acesso em: 23 nov 2024.
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