Não é nenhuma novidade que a cultura machista é reproduzida entre as mulheres com jogos de competição, agressividade e hostilidade entre si.
Umas tentam cortar as asas das outras que voam, de forma explícita ou velada. As críticas destrutivas e condenatórias evidenciam a tendência de caráter à inveja, raramente reconhecida.
Onde seria oportunidade de inspiração com aquelas mulheres que evoluem, existe a necessidade absurda de comparar-se, colocar-se superior por meio das desqualificações, encobrindo as próprias dificuldades existenciais em máscaras julgadoras. Como se o brilho de umas ofuscassem as outras. O reflexo é visível também no mercado de trabalho.
No “palco” do mundo profissional e político se vê reconhecimentos justos e injustos, assim como nas indicações para cargos e vagas, que mostram a dificuldade das mulheres apoiarem outras mulheres. O apoio de elogios na frente e críticas por trás compõe as puxadas de tapete que todas sofrem. Da mesma forma, nos elogios e reconhecimentos no discurso, mas sem valorização econômica, permanece evidente a cultura do patriarcado.
A cultura machista é vivida por ambos os sexos em diversos ambientes, a começar pela família, berço da educação para o patriarcado. As mulheres são metade vítimas, metade cúmplices - diz o filósofo existencialista Sartre. Concordo plenamente com ele, uma vez que sempre esteve a cargo das mulheres educar os filhos e grande parte os educou de modo machista.
O modo de viver entre as mulheres precisa ser compreendido com humildade e honestidade, sob pena de continuarmos por mais tempo nas estatísticas de desigualdades sociais, econômicas e profissionais, sem falar dos alarmantes números de violências físicas ou verbais, estupros e feminicídios.
Além da cultura machista, há aspectos psicológicos a serem compreendidos quando as outras são sempre colocadas no lugar de rivais e não de aliadas. Marcas da constituição psicológica inicial, nas relações com a matriz materna e familiar podem ser a origem da desunião entre as mulheres. Questões a serem trabalhadas em psicoterapia em relação à mãe, às irmãs, às tias, às avós etc.
Apoiar o crescimento das outras não irá impedir o seu. No entanto, não apoiar o crescimento das outras revela suas próprias frustrações, que se projetam numa oposição gratuita, que mantém o comodismo e até um vitimismo (ainda que inconsciente).
A verdadeira contribuição das mulheres ao planeta ainda não aconteceu - diz o criador da Ontopsicologia, Antonio Meneghetti, na obra “Feminilidade como Sexo, Poder e Graça” (2013). Para o autor, mulheres e homens são de igual importância e a humanidade precisa da contribuição feminina. Portanto, as mulheres apoiarem mulheres não é ideologia de esquerda ou direita, mas uma necessidade planetária, que depende do amadurecimento psicológico de mulheres e homens.
Quem são as mulheres que apoiam outras mulheres? Certamente as que estão buscando sua evolução, que olharam para dentro e compreenderam que sua maior inimiga reside dentro de si, pois fora se fortalecem unindo-se com as outras que também optaram por evoluir.
Sem ingenuidades! A união e o verdadeiro apoio estende-se para aquelas que igualmente querem crescer. A parcela que permanece fazendo os triviais jogos e competições vazias está contra si e contra todas as outras. Para sair desta autossabotagem, é preciso o amadurecimento psicológico, um processo de individuação que acontece por um desejo consciente de autoconhecimento, fazendo cair as diversas máscaras que se construíram na psique feminina.
Precisa estar logado para fazer comentários.