Em época de pandemia, onde milhares perderam as suas vidas, uma das formas argumentativas e de escape que restou aos sobreviventes foi o debate virtual. Nunca se viu tantas razões, heróis e intransigentes em um mesmo nicho. Com um clic, consegue-se incomodar, ofender e massacrar desde os mais sensíveis aos serenos. Em redes sociais, Instagram e Facebook, pouco se fala, pois ali é lugar de parecer bonito, coerente e prudente, até porque, neste lugar, há um monitoramento frequente de empresas, patrões e da própria sociedade. Contudo, são nos grupos de whatsapp que os gladiadores se confrontam. Os interlocutores ficam vorazes, intrépidos e se desafiam constantemente. Parece um Big Brother, onde todos iniciam suas atividades de forma republicana e, basta uma mensagem de viés político que os ânimos se afloram, paredões são formados, nenhum anjo é selecionado, até que cabeças começam a rolar, seja de forma voluntária ou arbitrária.
Neste mês, o STF se pronunciou sobre o declínio de competência das ações judiciais que envolviam o ex-presidente Lula. Diante disso, o pleito eleitoral programado para 2022, antecipou-se. Pelo zap, ou é proibido falar em política ou quando se é permitido, não há outo assunto a não ser o escárnio do atual presidente e ressuscitação do anterior. Observando um desses colóquios, um dos interlocutores antes de sua ruptura abrupta de um grupo de amigos, relatou: - O brasileiro não tem maturidade política e nossas conversas estão parecendo um campeonato de futebol. Quanto mais o time afunda, mais se discute! Mensagem seguinte, saiu do grupo.
Interpretando esta vociferação, passei a avaliar o binômio maturidade e time futebol diante do atual cenário político. Pois sim, em uma interpretação literal do primeiro termo, tem-se como aquele que se encontra em fase adulta, pronto para discernir, avaliar e se autodeterminar. A falta deste traquejo é notória diante do cenário que estamos, pois simplesmente idolatramos e veneramos aqueles que empenhamos o nosso voto, seja ele preconceituoso, criminoso, improbo ou malfeitor, não os abandonamos e também não nos permitimos permutá-los. A relação com o time de futebol é oportuna e jocosa, pois nós, brasileiros, apaixonados pelas quatro linhas, nascemos e nos identificamos com um certo símbolo e independente do que aconteça não o desprezamos mesmo diante de derrotas vexatórias ou rebaixamentos.
Há uma diferença crucial entre os dois parâmetros, um time de futebol vive de suas receitas, patrocínios, todos de origem privada. Quando sucumbe, causa efeito nefasto aos seus bens, funcionários, diretores e quiçá aos torcedores que são achincalhados pelos rivais. Já o Estado é mantido por nós – cidadãos - contribuintes que lhe outorgam poderes por meio de pessoas legitimamente eleitas como nossos representantes. A coisa pública dever ser cuidada, avaliada, fiscalizada e seu representante caso não esteja a contendo, afastado em tempo hábil. Isso é democracia e nós, povo, somos o titular direto deste regime.
Quanto ao atual chefe do poder executivo, não consigo lhe atribuir virtudes, pois o Brasil tem acordado com mais de 270 mil mortes causadas diretamente por uma política omissa e negacionista, na qual foram negligenciados o uso de máscara, isolamento e a compra de vacinas. Já quanto ao que está chegando, não é novidade. Lula teve o seu ápice, mesmo diante de escândalos notórios como o mensalão e conseguiu fazer a sua sucessora tendo seu staff quase todo encarcerado. Este foi beneficiado por uma decisão processual, mas se encontra longe da absolvição. Citar Lula e Bolsonaro não se está diante de uma polarização, mas de uma situação simbiótica, em que ambos se beneficiam. O vigente é fruto dos desmandos, desvios e locupletamento do anterior, tendo o povo se insurgido e, em uma momento de fúria, içou-o ao cume.
É fato, somos imaturos politicamente. Analisando estes dois cenários, o negacionista, intrépido e o ex, “quase maravilhoso”, metaforicamente pode-se citar que o Brasileiro ancorou junto aos times do Vasco e Botafogo. Ambos tiveram suas glórias e vivem do seu passado. Foram maus administrados, saqueados e adquiriram dívidas estratosféricas o que fez com que seus futuros se tornem incertos e temerosos. O brasileiro se alimenta do seu suplício. A alternância do poder é basilar em um sistema democrático, seja de esquerda, direita ou centro, todos devem ter a sua chance e espaço, cabendo a nós, cidadãos, fiscalizá-la com o afinco para que tenhamos um governante que reconheça que a vida e a saúde são direitos fundamentais, indisponíveis e devem ser preservados. Pouco se avança ao se esconder atrás de teclados. O Brasileiro deveria retirar as vendas e em vez de reproduzir engodos, passar a tatear e a lapidar políticos fiéis a constituição e que possa pelo menos tentar respeitar o estado democrático e construir uma sociedade mais justa e igualitária através do sufrágio. Insistir no que aí está ou no que já passou, é impedir que outros times que estejam aptos a jogar, com ideias e táticas novas, entrem em campo.
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