Considerações sobre a "mistica" da Inteligência de Segurança Pública remetem a questão da Análise Criminal e da ISP ao domínio de uma nova (em aparentemente óbvia oposição a uma "antiga") "cultura de gestão do conhecimento". É referência nessa área a pesquisa acadêmica do Professor Mestre em Ciência Celso Moreira Ferro Júnior (ex-agente e ex-delegado da PCDF, atualmente advogado com prática em Brasília). A referência específica ao trabalho de Ferro Júnior (dissertação de mestrado na Universidade Católica de Brasília - Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação) consta na web. Tive a oportunidade de examinar o trabalho do Professor Ferro Júnior "em banca" e com isso adquirir algum conhecimento e compreensão sobre esse tema tão atual e sempre tão polêmico.
Realmente existe (e/ou existiu) uma "mística da ISP", em que ao menos alguns conhecimentos por ela tratados, ao extremo da totalidade deles, devessem ficar circunscritos a um determinado "círculo de 'iniciados'".
A mística referida parece advir de "outros tempos" em que os produtores de ACT [Análise Criminal Tática (ACT), considerando a também existência de uma Análise Criminal Estratégica (ACE)], bem como os objetos da ACInv [Análise Criminal Investigativa (ACInv), considerando a também existência de uma Análise Criminal de Inteligência (ACI)] estivessem todos eles (analistas e produtos/temas substantivos) vinculados e comprometidos com outros ideais e valores, quiçá distintos dos ideais e valores dos atuais operadores da segurança pública.
É importante notar também que, em qualquer conjuntura histórica (incluindo a do contexto a que referimos a ISP no "aqui e agora"), o significado da expressão "Inteligência" se apresentará em uma trilogia em que o termo alternativamente representará (i) um método, (ii) uma estrutura administrativa/"órgão" (caso de uma Agência de Inteligência -- AI) ou, (iii) um produto/"documento" (caso dos atuais Relatórios de Inteligência -- "RelInts").
É possível mistificar certas "estruturas administrativas" e/ou seus "produtos", considerando a trilogia acima referida. Mas parece impossível poder fazer o mesmo com referência a um "método". O método a que refiro é uma "entidade intelectual" e, por isso mesmo, em sua utilização, pode ser aplicado por qualquer um, independente da estrutura administrativa de pertencimento de quem o aplica ou da formalidade que se empreste ao objeto ou documento por ele produzido.
A obra de Umberto Eco -- "O Nome da Rosa" – é bastante emblemática da independência que pode ter o operador de um método investigativo, mesmo em oposição a outros operadores, tão empoderados quanto foram os inquisidores medievais... Não é por outra razão que hoje toma corpo uma "Inteligência Corporativa", "Inteligência Empresarial" ou como quer que se possa chamar uma atividade que tem no "método" sua interface com a "Inteligência Clássica" ou "Inteligência de Estado".
Tudo isso escrito e aqui posto, retornamos a questão da "mística" da Inteligência de Segurança Pública, para sugerirmos que o "método" da AC/ISP, tanto enquanto "entidade intelectual" (livre para utilização por qualquer um que possa compreendê-lo e dele fazer uso) quanto pela sua necessidade para o encaminhamento dos graves problemas atuais de segurança pública do país (incluindo a realização futura no país de dois mega-eventos internacionais -- em 2014 e 2016), é algo possível e comprovadamente efetivo e necessário -- independente de outras variáveis -- incluindo má lembranças de um tempo que já passou...
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