O período do Natal nos remete a refletir sobre algumas questões existenciais que geralmente o dia-a-dia faz com que a gente não dê a devida atenção.
Este ano minhas reflexões antecederam este período. Minhas reflexões se tornaram mais intensas quando meu pai não passou bem, foi internado e ocorreram algumas complicações.
Realmente preocupou toda a família e os amigos, mas graças a Deus agora ele está bem e tudo que ele passou felizmente foi apenas um susto.
Confesso que demorei um pouco para conseguir verbalizar como este susto nos deixou desnorteados. O fato de acordar um dia, ver uma pessoa que amamos muito e, de uma hora para outra, esta pessoa passar mal e a vida desta pessoa correr risco realmente é perturbador para qualquer um.
Muitas vezes não temos a dimensão que nossa passagem na terra é temporária, que cada um de nós possui uma missão e que, em algum momento, esta missão será cumprida. Assim surge a morte, esta transição entre uma dimensão e outra da nossa existência, para algumas crenças seria um renascimento, para outras a ida ao paraíso e outras a etapa que antecede a reencarnação.
Acredito que todos viveriam melhor e teriam bem menos sentimento de culpa se refletissem mais sobre a importância de cumprir a missão, de viver em harmonia, de ajudar ao próximo e também se percebessem que a vida é um período passageiro.
Quem não tem vontade de abraçar uma pessoa querida que já se foi, de beijar um familiar que não está mais entre nós ou de dizer que ama este ente querido?
Este sentimento proporciona um arrependimento muito grande nas pessoas.
Muitas vezes não temos coragem de expor a nossa sensibilidade, nem demonstrar o amor que sentimos pelas pessoas a nossa volta.
O grande problema é que constantemente percebemos isto muito tarde.
O risco que meu pai correu naquele dia 06 de setembro de 2010 me fez refletir principalmente sobre meu papel de filho, de marido, de amigo, de profissional. Também refleti muito sobre as minhas demonstrações de amor com as pessoas que estão a minha volta. Será que estas demonstrações eram suficientes e acima de tudo, será que minhas ações eram adequadas no trato diário com estas pessoas?
E se tivesse ocorrido uma fatalidade com ele, como seria? Eu carregaria comigo um sentimento de culpa, de não ter dado um abraço, um beijo, de ter dito para ele como sinto amor e admiração, como sou grato por tudo que ele tem feito.
Será que ficamos juntos com as pessoas que amamos o suficiente?
Será que damos o valor necessário à família?
Será que não perdemos muito tempo com pequenos detalhes e grandes preocupações, que geralmente proporcionam apenas sentimentos negativos?
Nunca vou me esquecer, nem vou deixar de me emocionar quando me lembro dos telefonemas de amigos, irmãos e familiares preocupados com a saúde do meu pai.
Sempre carregarei comigo a lembrança daquela manhã do dia 07 de setembro, do interfone tocando e meus tios começando a chegar, para dar apoio, para rezar pela sua melhora, como felizmente acabou ocorrendo.
Me emociono quando recordo de ter visto quase todos meus 10 tios, além de outros familiares e amigos queridos na entrada da Santa Casa aguardando notícias do meu pai. Quero um dia poder dizer para cada um deles, como foi importante estarem ao nosso lado naquele momento.
Eu sempre discuti com meus familiares e amigos sobre a importância de demonstrar sentimentos, mas será que no dia-a-dia eu estava agindo conforme o que apregoava?
Este susto que passamos serviu para refletir muito sobre isso.
Agora, nesta época de Natal, neste momento de nossas vidas que pensamos no exemplo de Cristo eu me ajoelho para agradecer. Não devo agradecer só hoje, mas agradecer sempre, agradecer por acordar, por dormir, por trabalhar, por estar perto das pessoas que amo, por trabalhar nas atividades que tenho vocação, por poder realizar meus sonhos, enfim, tenho que agradecer sempre por tudo isso que Ele tem proporcionado.
Agradeço muito a Deus por ter sido apenas um susto e acima de tudo por isto ter feito com que eu refletisse mais sobre o amor, a família e os presentes que Deus nos oferece diariamente.
Este Natal será diferente, não quero que ninguém me dê qualquer presente, afinal, já ganhei meu presente, meu melhor presente, um presente que não tem preço, um presente inexorável chamado família.
O fato de Deus ter restabelecido a saúde de meu pai, para que ele e minha mãe continuassem dando exemplos de amor ao próximo e à família são os melhores presentes que eu poderia receber.
Neste dia de Natal quero convidar a todos vocês, que reflitam se estão sabendo expor seus sentimentos, principalmente para as pessoas mais próximas, se estão dizendo e demonstrando quanto amam seus entes queridos e se estão agradecendo a Deus por tudo que ele oferece.
Tenham um Feliz Natal e que o ano de 2011 seja cheio de amor e saúde que são as nossas mais importantes necessidades.
HIGOR VINICIUS NOGUEIRA JORGE é Delegado de Polícia, professor de análise de inteligência da Academia da Polícia Civil e professor universitário. Tem feito palestras sobre segurança da informação, crimes cibernéticos, TI e drogas. Site: www.higorjorge.com.br. Twitter: http://twitter.com/higorjorge.
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