Antigamente não havia pesquisas eleitorais. Cada partido alardeava que seu candidato iria vencer. O eleitor votava livremente e com fé em seu candidato que, para quem tinha experiência e conhecimento dos meandros da política, não teria a menor chance.
Já atuei em comarcas em que uma pesquisa não teria a menor possibilidade de expressar com fidelidade a situação dos candidatos. Em uma região do município o partido fazia mais de noventa por cento dos votos. Já na outra região não chegava a dez por cento. A abertura das urnas da “zona da mata” virava o resultado da eleição. Em minha cidade natal, Candelária, chegou a ocorrer empate, diferença de um e de vinte votos.
Depois que surgiu essa febre de pesquisas, realizadas por inúmeros institutos cuja credibilidade é difícil de confirmar, o eleitor passou a desanimar de seu voto e seguir a manada, votando em candidatos que estariam “ganhando a corrida”. São recentes os exemplos de candidatos de renome fazendo apenas dois por cento dos votos.
Na minha opinião deveriam ser melhor disciplinadas essas pesquisas e até restringidas no período próximo às eleições, de forma a permitir que o eleitor exerça seu voto livre de pressões psicológicas.
Lembro de uma eleição municipal em que a mídia bombardeava o eleitorado com pesquisas semanais, apontando a segura vitória do candidato de sua preferência, que estaria “vencendo a corrida” para a prefeitura. Foi preciso que o outro candidato buscasse um órgão de imprensa de outro município, e que também realizou pesquisa indicando sua vitória, o que acabou se concretizando nas urnas.
Na eleição presidencial de 1989 recordo que uma grande rede de televisão publicava constantes pesquisas apontando estar longe na frente um candidato quase desconhecido. Este acabou sendo eleito sem grande margem, para logo sofrer processo de cassação e renunciar.
Aqui no Estado do Rio Grande do Sul as urnas derrubaram várias pesquisas. Germano Rigotto saiu de 8% para, depois, se eleger governador. Quando as pesquisas apontaram sua segura reeleição, perdeu para Yeda Crusius, que tinha apenas 11%, e nem foi para o segundo turno. Em 2014 Sartori era o terceiro colocado, com 15%, e foi eleito governador. Em 2018 Eduardo Leite tinha apenas 8% e derrotou Sartori, candidato à Reeleição. Eduardo Leite repetiu Germano Rigotto. Depois de perder as prévias para Presidente da República, tentou se reeleger governador. Quase não foi para o segundo turno. Aguardemos, mas na história recente nenhum governador do Rio Grande do Sul obteve a reeleição.
Em outros Estados tivemos muitas surpresas nas urnas, desmoralizando a maioria das pesquisas eleitorais. Em Minas Gerais a ex-presidente Dilma Rousseff, que deveria ter ficado inelegível por oito anos quando do impeachment, era tida como certa para o Senado, porém acabou derrotada nas urnas, amargando um quarto lugar. Também para governador, Romeu Zema, do Partido Novo, que tinha apenas 8% das intenções de voto, surpreendeu ao derrotar renomados caciques políticos.
No Rio de Janeiro o quase desconhecido Wilson Witzel saiu de ridículos 2% e derrotou conhecidos políticos, inclusive o ex-jogador Romário.
Voltando ao Rio Grande do Sul, o atual candidato a governador Luis Carlos Heinze, saiu de surpreendentes 8% e se elegeu senador, derrotando outros experientes políticos.
Na eleição de 2.022 os inúmeros institutos de pesquisa voltaram a errar e, em alguns casos, por grande diferença.
Qual a vantagem de bombardear diariamente o eleitor com números como se estivesse ocorrendo uma “corrida eleitoral”?
Inobstante possam servir de passatempo para quem se deleita com elas, creio que as pesquisas não deveriam servir para influenciar o eleitor, de forma a prejudicar o livre exercício do voto, mas apenas para orientar a atuação dos candidatos. Note-se que tais publicações desidrataram várias candidaturas que obtiveram números ridículos.
Lembro de uma disputada eleição a prefeito da capital em que os resultados das pesquisas variavam conforme a encomenda, acabando por ser publicado em jornal do dia da eleição que quatro candidatos estavam empatados, dentro da margem de erro. Posteriormente veio às minha mãos, para despachar, uma ação cível em que um instituto de pesquisa acusava um órgão de imprensa de não ter publicado as últimas pesquisas recebidas, republicando uma pesquisa de dias anteriores.
Pesquisa pode indicar uma tendência, retratando o momento atual, e nada pode substituir o voto na urna. Aliás, são essas pesquisas de “boca de urna” que mais se aproximam da realidade. E mesmo assim erram...
Por isso o eleitor deve exercer livremente, de acordo com sua consciência, o sagrado direito de escolher seus representantes, consciente de que essa escolha ditará seu futuro e de sua família.
Moacir Leopoldo Haeser
Desembargador aposentado e advogado
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