Primeiramente devo esclarecer que coisificação é um conceito da Escola de Frankfurt muito difundido e explorado por Adorno, este filósofo analisou o Jazz frente ao mercado da música, em sua abordagem criticou o ritmo coisificado que obedecia ao mercado com um único princípio: produção musical e facilidade de reprodução. Conforme Adorno os níveis de apreciação da música e os valores esculpidos pelos clássicos foram destruídos pelo ritmo degenerado imposto pelo mercado da música, Adorno lamentou que obras como as de Johan Sebastian Bach, com no mínimo vinte notas por compasso, não mais reverberassem nos ouvidos das pessoas, ainda conforme Adorno esta degeneração da música repercutiria negativamente nas massas, estas massas conduziriam pessoas corruptas e superficiais aos governos, desta forma a humanidade presenciaria a degeneração total do gênero humano...
Após este preâmbulo passo a narrar um fato que aconteceu em minha carreira policial:
Em 2008 apresentei-me na oitava Delegacia de Polícia para compor a equipe “D” do plantão. Local: Cidade Estrutural-DF, no coração do Brasil, bem no centro administrativo!
A cidade tinha uma característica dos aglomerados que se convencionou nominar de favela.
Ocorre que uma coisa me intrigou. – De onde tanta gente, em condições tão precárias tirava o seu sustento?
Passei a observar que 99% das pessoas que procuravam o posto policial quando questionadas sobre o quesito: trabalho ou atividade laboral (praxe para a confecção de ocorrências policiais) respondiam que trabalhava m no aterro sanitário separando “lixo”. O produto de seu labor diário é vendido posteriormente para empresas que por ali passam para comprá-los.
É lógico que a administração tem um cadastro de empresas credenciadas com permissão para entrar e sair do lixão, afinal o DF é, ao menos simbolicamente o centro administrativo do Brasil. Mas na prática a coisa funciona assim:
No trato com a pecúnia em tudo se assemelha a uma bolsa de valores, guardadas as devidas proporções, qualitativas, é claro!
Bom, várias pessoas catam “lixo” e vendem à unidade de medida por R$10,00, (dez Reais) estes, conseguem com muito esforço o valor de R$ 30,00 reais por dia trabalhado, essas pessoas são as primeiras do ciclo do “lixo”, elas enchem e negociam seus bags ( bags são sacolas de nylon de aproximadamente dois metros de altura que servem de unidade de medida na venda de plástico ou papel catado no Aterro Sanitário-Lixão). Associa-se a esta medida o método de pesagem dos bags e assim se extrai o valor. Cada bag cheio vale aproximadamente R$10,00.
Às vezes o “lixo”, bag, é vendido para uma pessoa do próprio meio que conseguiu juntar um dinheirinho a mais e fazer um capital de giro semanal de R$ 400,00. Esta pessoa recusa-se a catar “lixo”, só compra e revende os bags, é uma espécie de atravessador.
Em geral, vende para um terceiro que acumula o “lixo” em sua própria casa, no quintal, transportando-o em carroça. Este último Movimenta R$ 800,00 por semana.
Percebeu? o “lixo” começou a sair do aterro sanitário, é o primeiro transporte. Perceba também que R$ 800,00 é o máximo de capital que um “autônomo” gira no aterro sanitário da cidade estrutural, Brasília - Distrito Federal, onde o custo de vida é sem dúvida um dos mais elevados do país.
Os negócios acima deste valor são levados de caminhão por empresas que trabalham com “lixo”, elas negociam este “lixo” lá mesmo, no lixão ou compram dos “autônomos” todas as manhãs.
Em síntese: Lá na Cidade Estrutural negócio é comprar e vender bags.
Agora o inusitado!
Ocorre que estas empresas têm um concorrente lá na Ásia, acredite! É inusitado mesmo, não foi um erro de digitação não, quem diria, a China compra bags também! E são os mais selecionados, pois os chineses são exigentes eles querem tudo prensado em cubos para facilitar o transporte...
Para se confirmar basta ficar na “campana” ( espreita) lógico uma campana tecnológica, afinal, o Google Earth deve servir para algo mais, além da caçada de terroristas. Explico: Basta ir a “feira dos importados” ou a 25 de março, quem sabe no Saara do rio de janeiro, ali se vende Novas Tecnologias-NTis confeccionadas com o “lixo” brasileiro, ora sabendo manipular direitinho – o Google Earth, só para assinantes - você consegue rastrear o caminho do “lixo”/NTis, Incrível! Isto mesmo, estes eletrodomésticos, aparelhos ultramodernos como o computador que se usa em casa foram confeccionados com o material dos bags, assim como os acessórios dos automóveis dentre tantas outras coisas de R1,99.
Experimente você mesmo, assine o google eath e faça o “circuito-ciclo” localize o lixão da estrutural, coordenadas do DF, Primeiro passo: localizar os bags, é só encontrar um que não foi vendido para as empresas, lembra aquele dos “autônomos”?
É este aí! se prepare agora que o caminho é longo, e se sentir enjôo em viagens de navio pare por aí porque o “lixo”/NTis” vai de navio pelo porto de Santos - SP. -Luxo não?
Depois de uma maquiagem (industrialização de diversos gêneros) já não mais se poderá reconhecer o “lixo” dos bags.
O “prásco” dos “ bags”, que saíram pelas portas do fundos do lixão agora são obras finas prontas para entrar pela porta da frente de qualquer grande empresa, tem preferências as de R$ 1,99 e as feiras livres, agora de centavo a centavo movimentam milhões...
O povo da estrutural não merece um prêmio Nobel?
Não?
Não! Eles só querem infra-estrutura mesmo.
NA REALIDADE, TODOS OS ENVOLVIDOS NESTE PROCESSO DE RECICLAGEM ESTÃO DE PARABÉNS!
TODAVIA O BRASIL, E PRINCIPALMENTE BRASÍLIA DEVE APRENDER A NEGOCIAR NESTE MERCADO, QUEM SABE INCENTIVANDO AS NOSSAS EMPRESAS E TRIBUTANDO AS ALIENÍGENAS? QUEM SABE GARANTINDO UM VALOR FIXO PARA O CATADOR COMO SE FAZ NA CHINA?
Lá na china existe um sistema misto onde os pobres são comunistas, o estado garante seus salários, os ricos são capitalistas ensaiáveis a ponto de comprar lixo em todo o mundo, estes garantem o pagamento fixos daqueles que naquela sociedade são verticalmente inferiores. Existem também os socialistas falaciosos, são os intermediários não catam lixo, são burgueses, também não se preocupam com cotação da bolsa, tudo conforme o manifesto de Karl Marx, apenas consomem e freqüentam festas.
Embora semelhante isto não se confunde com o sistema de castas da Índia, pois aqui estas classes se comunicam formando um todo harmônico, porém não é vedada a ascensão de uma camada a outra .
No sistema de castas não existe a possibilidade de um indivíduo migrar de uma classe para outra e neste modelo misto existe esta possibilidade inclusive é o alvo de muitos que nele se engendra.
Observem quantas massas de distintos países evolvidos em torno do Lixo.
Eu não duvido que a música do Bumbum, com no máximo duas notas por compasso, uma para cada nádega, faça sucesso na china.
Parafraseando MANUEL BANDEIRA
O “lixo”
Vi ontem um lixo
Na imundície do aterro sanitário
Catado, expurgo em comida se transforma .
Quando achado foi coisificado
Não se examinou seu cheiro “pecunia non olet”:
Capitaliza-se.
O lixo não era para ficar ali no lixão
Era para os gatos,
Não para os ratos.
O lixo, meu amigo, era pró- china!
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