É incrível a facilidade com que, no Brasil, se vira o jogo. Num piscar de olhos, o acusador passa a ser o acusado. É o que se vê no caso em tela. O delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, pode, sim, ter errado. Pode, sim, ter se excedido, passado do ponto. No entanto, não se pode desviar o foco do principal.
Como restou provado, inclusive por meio de filmagens, o banqueiro Daniel Dantas tentou, sim, subornar o delegado Protógenes Queiroz. A quantia? US$ 1 milhão! Sim! Tal fato foi amplamente divulgado pela imprensa nacional e, por que não, internacional. Afinal, não é todo dia que se vê alguém recusar US$ 1 milhão. Ainda mais no Brasil onde a classe política se suja por muito menos (vide o “mensalinho”, recebido por Severino Cavalcanti, então Presidente da Câmara dos deputados... míseros R$ 10.000,00...).
E são esses mesmos políticos que cobram punição de Protógenes Queiroz! Segundo o líder do PDT, senador Osmar Dias (PR), “Esta não é uma questão da oposição, mas algo que interessa a toda a sociedade brasileira”, e “O PDT defende, sim, que providências sejam tomadas, porque o que está havendo é uma agressão aos direitos do cidadão”.
Sim. O senador está certo. É uma questão que interessa a toda a sociedade brasileira. Interessa saber, por exemplo, por que um delegado da Polícia Federal, que por meio de uma operação muito bem conduzida, consegue incriminar de forma cabal figurões como o banqueiro Daniel Dantas, um delegado que recusa US$ 1 milhão, por que esse delegado, agora, é que deve dar explicações! Sim.
Enquanto isso, Daniel Dantas pouco é citado nos jornais e revistas. Pelo contrário, quando o é, é de forma vitoriosa: basta recordarmos da Súmula 11, prontamente aprovada pelo STF, segundo a qual “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. Cumpre-nos ressaltar que a aludida Súmula veio a ser aprovada imediatamente após a prisão de Daniel Dantas, devidamente algemado. Claro, antes dele, nunca nenhum preso havia sido algemado, motivo pelo qual nunca o STF havia se manifestado acerca do tema, de modo tão contundente quanto agora.
Concluindo; Protógenes errou? Sim, errou. Exagerou, passou do ponto. Deveria assumir logo o seu erro; afinal, nada mais digno do que um homem assumir suas falhas. Mas não deve ser feito de bode expiatório, como está sendo feito. Deve abrir o jogo, dar nome aos bois: por que Fulano, Beltrano e Sicrano tem tanto medo que ele divulgue isso ou aquilo? Por que ao invés de cuidarem do banqueiro que tentou subornar o delegado da Polícia Federal com US$ 1 milhão, estão a se preocupar tanto com Protógenes? O que afinal ele sabe tanto, que tanto medo (ou mesmo ódio) causa a boa parte dos políticos e de outras “celebridades” brasileiras? E por favor, não me venham com essa de “invasão de privacidade”, pois muitos outros direitos, direitos esses garantidos constitucionalmente, tão ou mais importantes do que o aludido “Direito à Intimidade, à Privacidade”, são, dia após dia, desrespeitados de forma clara e evidente pelas ditas autoridades competentes do nosso Brasil.
Enquanto todas as atenções se voltam para ele, Daniel Dantas e seus comparsas riem.
Por isso, Protógenes, não tenha medo. Fale, que o Brasil quer lhe ouvir. O Brasil quer saber quem fez o que; o Brasil quer saber por que tantos políticos, tantas “celebridades” brasileiras tem tanta condescendência com o banqueiro Daniel Dantas! E por que esses mesmos políticos, essas mesmas “celebridades”, lhe atacam com tanta voracidade.
Sou uma pessoa de princípios; acredito que o Sr. Protógenes Queiroz também seja. Talvez por isso, tenha se excedido. Afinal, é duro ver como as coisas funcionam no Brasil; um delegado cumpre com seu trabalho e está a ser indiciado, enquanto que o criminoso, pego em flagrante, de forma clara e evidente, não, esse pouco ou nada sofre.
Talvez seja por isso que, num país como o Brasil, onde infelizmente reina a falsa moral, um homem que recusa US$ 1 milhão para simplesmente “ficar quieto”, deixar de fazer o seu trabalho, seja hoje alvo de tantas acusações.
Muitos brasileiros, hoje, devem estar a pensar: “Puxa, talvez fosse melhor para ele ter aceitado o suborno; estaria rico, e ninguém falaria nada dele”. Assim como fazem muitos políticos e “celebridades” brasileiras. Não os deixe pensar assim.
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