Uma das imagens consagradas para significar a união entre as pessoas é a do laço. Durante a vida formamos laços matrimoniais, laços de amizade, laços familiares, profissionais ou de vizinhança. Vínculos que, de alguma forma, nos prendem uns aos outros. Há aqueles fortes como um nó cego: entre pais e filhos, ou entre irmãos, por exemplo. Estes, jamais se desfazem: é preciso cortá-los na carne. Outros, são tênues a ponto de se desmancharem com o ínfimo peso das horas. Nenhum melhor ou pior: apenas diferentes, cumprindo suas funções.
Existem, também, os laços indiretos. Aliás, são os mais frequentes: sou amarrado em música, em bicicleta, em orquídeas ou aeromodelismo e, de algum modo, construo relações com alguém que igualmente seja. Nada além do mesmo gosto nos prende. Isso pode durar uma pequena, porém salvadora, conversa entre dois desconhecidos em um encontro social. Parênteses: só quem já esteve na angustiante situação de convidado para um lugar onde todos são estranhos sabe o valor de encontrar alguém para enlaçar um papo. Assunto que, se morrer ali mesmo, já terá valido muito. Ou, ao contrário, fará nascer o amor verdadeiro, a franca concorrência, uma longa amizade...
Este último foi o caso que me aconteceu vinte e muitos anos atrás. O lacinho casual de dois deslocados numa festa de aniversário bastou para firmar a parceria que compôs a formação musical que tenho até hoje, e cujos parceiros unem-se cada vez mais em laços de afeto. Estranho é lembrar que, daquela tarde, os vínculos que julgávamos fortes se desfizeram, restando firme o singelo fio da meada sobre jazz, influências musicais e amigos músicos. Desde lá, construímos uma farta teia de relações, de intenso e prazeroso convívio. Sem dúvida, me amarro nesses bons amigos!
Professores também são testemunhas de novos laços a cada ano ou semestre, no instante em que o período letivo começa. No meu caso, nas novas turmas de oficina literária, pessoas desconhecidas permanecem algumas horas atadas ao processo criativo. Um pouco por causa da paixão que carrego pela crônica, gênero ideal para a informalidade, de alguma maneira contamino o grupo com tal espírito. E vibro com o companheirismo que nasce e frutifica a partir dos encontros em torno dos textos. Acredito que ainda testemunharei outro nível de desdobramentos – além da boa amizade ou do ódio sincero – entre os colegas de turma. É uma questão de tempo.
E a vida funciona assim: todos nós (sem trocadilho) inseridos no tecido social de laço em laço, sendo uns estratégicos e outros afetivos; uns efêmeros e outros perpétuos. Como ser feliz sem dar um pouco de corda a quem puxa conversa? Mesmo fiada: são as melhores! Pense nisso quando lhe estenderem a mão, ao receber um surpreendente bom dia ou boa noite, se pintar um papo na fila do cinema etc. Não economize novos laços em sua rede de amizades. Jamais saberemos qual nó evitará nosso tombo. Nem quem estará seguro por nossas forças, com braços e almas entrelaçados em mútuo socorro.
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