Muitas são as razões que levam determinadas pessoas a evitar fazer uma abordagem para prevenir ações que podem levar a perdas materiais e até humanas no trabalho. Exemplo disso é simplesmente acreditar que os funcionários não seriam ouvidos ou que receberiam algum argumento em contrapartida. Outro ponto seria a alegação de que não há tempo suficiente para diálogo uma vez que os prazos de trabalho devem ser cumpridos. Ou, ainda pior, que o funcionário não tem conhecimento o suficiente para executar determinada tarefa.
Imagino, então, o que levaria uma líder de empresa, como Cynthia Carrol, da Anglo American, considerada a maior em mineração, a fechar a maior mina de platina no mundo para recapacitar os funcionários sobre segurança de trabalho. Em 2011, ela conseguiu reduzir mortes na Anglo American em 62% e as lesões de trabalho foram reduzidas pela metade.
De acordo com Cynthia, havia problemas de segurança em toda a operação visitada por ela, mas, particularmente, em um lugar: a subsidiária de platina na África do Sul, que, na época, empregava mais de 86 mil pessoas. As condições de trabalho eram extremamente difíceis com trabalhadores de diferentes culturas sem um idioma comum. A taxa de alfabetização era muito baixa e o trabalho ocorria a uma profundidade de centenas de metros, em um ambiente escuro, quente, úmido e íngreme. Em certas áreas, o espaço era só suficiente para o mineiro trabalhar de joelhos.
Levando em consideração essa condição subumana de trabalho, Cynthia Carrol, optou por um único jeito de fazer a empresa inteira entender sua insatisfação: fechar a maior mina de platina do mundo, de Rustenburg. Por sete semanas a força de trabalho neste local foi totalmente recapacitada.
Talvez Cynthia Carrol tenha os mesmos princípios em prol da prevenção de acidentes de trabalho que defendo. Dai porque entendo sua atitude e passei a ser seu fã. Na indústria de mineração, uma paralisação desse gênero foi algo inédito.
Entendo que as abordagens comportamentais são imprescindíveis numa relação de trabalho, que é um processo de aprimoramento da cultura de prevenção de acidentes de trabalho. Funcionários precisam sentir que eles podem falar e intervir quando alguém está cometendo um ato inseguro. Uma das razões que faz com que os funcionários se calem é simplesmente porque não sabem falar sobre determinado assunto.
Tenho um modelo próprio de conversação sobre segurança. Trata-se de um plano constituído de seis passos: aproximar-se da pessoa com atitude de resolver o problema; descrever seu comportamento objetivamente, evitando criticar ou repreender; expressar seus sentimentos e pensamentos sobre o comportamento da pessoa; deixar saber que tipo de comportamento é esperado; explicar os benefícios que resultarão do novo comportamento; solicitar compromisso com o novo comportamento e sugestões de melhoria.
Comunicação de segurança eficaz no trabalho é vital para conseguir com que funcionários e empreiteiros trabalhem em prol de uma cultura de segurança preventiva. Todos os funcionários deveriam se capacitados em seu local de trabalho para obterem habilidades de comunicação adequadas e apoio para abordar seus subordinados e até mesmo seus pares. É um grande passo para ter uma cultura de segurança desenvolvida e um trabalho extremamente seguro.
Acredito que o desafio da Anglo American passa por difundir uma forma de diálogo entre líder e liderado de maneira construtiva e proativa, pois somente assim conseguirão, empresa e funcionários, evoluir na sustentabilidade dos resultados.
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