As melhores comédias lançadas no ano de 2012, o já clássico “Intocáveis”, recorde de bilheteria na França, e “As Sessões” – história verídica sobre uma vítima de poliomielite (paralisia infantil) que quer deixar de ser virgem aos 30 e poucos anos -, são sobre deficientes físicos. Sim, comédias sobre deficientes, por que não?!
Isso pode vir a indicar uma mudança significativa no padrão de comportamento da sociedade, uma quebra, que vem se desdobrando paulatinamente, de um tabu. O que é uma ótima notícia! Não só por estar havendo uma maior inclusão dos especiais, fruto da recente evolução dos seus direitos conquistados, mas também porque paramos um pouco de ter essa altamente prejudicial condescendência piedosa para com eles, que foi sempre tão arraigada na sociedade contemporânea.
Se antes, eles eram vistos sempre apenas como exemplos de superação em dramas como “Meu Pé Esquerdo” e “Nascido em 4 de Julho”, hoje, já se tem liberdade para mostrá-los que, como qualquer outra pessoa, sabem rir de si mesmos e têm senso de humor, apesar de suas deficiências, sem resquícios de auto-comiseração. Afinal, como diz o ator Ariel Goldenberg (aquele da campanha “Vem Sean Penn”), da comédia (outra!) brasileira “Colegas” sobre downianos, o que eles querem mesmo é serem tratados como todo mundo.
Mas nem sempre foi assim. Para começarem a ser tratados igualmente pela sociedade, um dos principais fatores foi a evolução dos direitos dos portadores de deficiência física - ainda, claro, incompleta e longe do ideal, vale ressaltar -, que se deu a passos lentos, sempre esbarrando no preconceito, e teve início apenas no século XX.
Hoje, no Brasil, já temos várias leis de inclusão, no que se dá o nome de “Acessibilidade”. Empresas são obrigadas a seguir cotas de empregabilidade do deficiente, ônibus e estabelecimentos devem desenvolver mecanismos de acesso a eles, bancos e supermercados devem lhes dar prioridade de atendimento, além de que há vários casos de isenção tributária e benefícios previdenciários específicos.
É claro que, por restrições financeiras ou até mesmo por acharem que terão prejuízos em adaptarem seus estabelecimentos às necessidades da acessibilidade, muitos empresários não aplicam a lei, e aí, é dever do governo de fiscalizar e da sociedade de exigir que os direitos conquistados sejam implementados. Como dizia Aristóteles (apesar de ser um clichê jurídico, merece ser, nesse momento, lembrado), "a verdadeira igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades”.
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