Os EUA (dizem os pessimistas e antiamericanistas), sem orçamento aprovado, estariam à beira da falência (devem mais de 16 trilhões de dólares). De acordo com a minha opinião a maior dívida deles é com a ética e a justiça social. Nos países que ecoaram os embates da Guerra Fria estabelecida entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética (capitalismo “versus” socialismo ou comunismo) também houve fortíssimo incremento do poder punitivo estatal, ingressando-se, todos eles, em regime de exceção. Foi muito intensa a influência norte-americana, sobretudo nos países da América do Sul. Havia um inimigo a ser derrotado, o comunismo. Eleito o inimigo interno (o comunista) e o discurso, a etapa seguinte é a da guerra (dos massacres, das atrocidades). Foi dessa maneira que milhares de pessoas (civis e militares) foram trucidadas nos países do nosso entorno cultural.
Logo que concluída a Segunda Guerra Mundial uma geração inteira de militares brasileiros foram cooptados pelos EUA para frequentarem lá cursos (de adestramento, de lavagem cerebral) ancorados na doutrina militar norte-americana (ou seja: doutrina de defesa do regime capitalista, frente ao comunismo). Em março de 1947 (confira a Wikipedia) “o Presidente estadunidense, Harry Truman, afirmou que os EUA estavam dispostos a conter o avanço comunista intervindo militarmente nos focos de perturbação. Qualquer agressão aos regimes simpatizantes à política externa dos EUA caracterizaria uma agressão à Segurança Nacional dos EUA. Além disso, para forçar os países latinos neutros, até então, a aderirem ao lado capitalista, o Secretário de Defesa estadunidense, J. Foster Dulles, afirmou ser a neutralidade uma degradação moral”.
No Brasil (Wikipedia), “Golbery de Couto e Silva criou o Serviço Nacional de Informações (SNI) para eliminar os "inimigos do regime", assegurando a segurança nacional. Outro ponto que liga os EUA ao Brasil na época do regime militar era a Escola Militar das Américas, que formava militares especialistas em técnicas de contra-guerrilha, tortura científica e interrogatório. No Brasil foram formadas 355 pessoas. Essa doutrina foi muito influente para a história nacional”.
A doutrina da defesa nacional (capitalista) foi construída nos anos seguintes à Segunda Guerra (sobretudo dentro da Escola Superior de Guerra). Frente ao comunismo, era mesmo melhor defender o capitalismo, que depois se degenerou (neoliberalismo) e até hoje não se corrigiu, para se compatibilizar com a justiça social. Demoraremos alguns anos mais, mas um dia descobriremos que a melhor forma de preservar o capitalistmo consiste em compatibilizá-lo com a justiça social.
Os militares treinados e doutrinados retornaram para seus países e aí começaram a vigilância dos governos. No Brasil, depois da renúncia de Jânio Quadros (1961), assume o poder João Goulart, que não era bem visto pelos militares. Ideias muito progressistas. Em 1964 eclode o golpe militar, com amplo apoio midiático (Globo, Estadão, Folha etc.). Incontáveis pessoas mortas, desaparecidas, torturadas etc. Selvagerismo em marcha. Que existe desde os primórdios dos seres humanos. Essa cicatriz ainda não se fechou, como agora vem demonstrando a Comissão da Verdade.
A doutrinação norte-americana dos militares brasileiros foi, no final, vitoriosa (como o capitalismo neoliberal foi vitorioso frente ao comunismo, dando-se a queda do muro de Berlim, em 1989). Os apressados (como Fukuyama) decretaram o fim da história, que, na verdade, não acabou. O regime capitalista, que é o pior de todos, com exceção dos demais, ainda tem grande dívida com a justiça social. Seus rumos devem ser corrigidos, para a construção de um mundo mais sustentável, humana e ecologicamente.
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