Meus amigos: gostaria de resumir e compartilhar com vocês a leitura que fiz de MAGALHÃES, Joaquim Romero de, Quem descobriu o Brasil?, em História do Brasil para ocupados, organização de Luciano Figueiredo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. As notas entre colchetes são minhas.
A resposta à pergunta (O Brasil foi descoberto por acaso?), ao que tudo indica, tem que ser positiva, consoante o historiador Joaquim Romero Magalhães (ob. cit., p. 16-20) [O Brasil então seria fruto de um fenômeno que se chama serendipidade, que consiste na descoberta por acaso de algo distinto do que se procurava; nas interceptações telefônicas isso é frequente: procura-se prova de um crime e encontra-se outro crime; procura-se prova contra um determinado criminoso e encontra-se outro]. Em 1499 Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para as Índias. Em 9 de março de 1500, do Tejo, saiu uma armada (13 navios, com mais de 1500 homens) comandada pelo capitão-mor Pedro Álvares Cabral (ou P. A. de Gouveia), “um homem avisado, de bom saber”, de confiança (de D. João II). A armada passou por Cabo Verde e rumou para o sul (crente de que fazia a mesma rota de Vasco da Gama).
Descoberta não proposital. Em 21 de abril de 1500 foram notados (como escreveu Pero Vaz de Caminha ao rei) “alguns sinais de terra”; no dia 22 de abril, primeiramente foi visto um grande monte (Monte Pascoal), depois a Terra de Vera Cruz, primeiro nome dado (pelo capitão-mor) ao território habitado por indígenas nus, “gente mansa e pacífica”; terra “cheia de grandes arvoredos, de ponta a ponta é toda praia parma, muito chã e muito formosa (...) querendo se aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem”. A armada ia a caminho da Índia, mas acabou descobrindo [por acaso, em razão de uma serendipidade] o Brasil. Tudo leva a concluir (salvo algumas opiniões em sentido contrário) que esse “achamento” não foi propositado. Tratar-se-ia de um descobrimento ocasional. A razão? Uma excessiva inflexão para o sudoeste da rota da arma de Cabral! Talvez Vasco da Gama, em 1497, já tenha visto essas terras, mas isso é mera suposição. De qualquer modo, “Nenhum documento permite afirmar que Pedro Álvares Cabral partira de Lisboa com o propósito de descobrir novas terras”. A armada partiu com destino à Índia. “Nada indica qualquer segredo anterior bem guardado” (sobre o suspeitado propósito de descobrir o Brasil). Cabral enviou um navio a Portugal para anunciar a descoberta, que não foi intencional (ao que tudo indica).
O Atlântico e suas surpresas (navegar não era tão preciso como sugerira F. Pessoa). Com a chegada dos portugueses ao Brasil soube-se que o Atlântico era só parcialmente conhecido (pelos espanhois, inicialmente, visto que Cristóvão Colombo chegara nas Antilhas em 1492). Desde o começo do século XV os portugueses já buscavam escravos na África; Bartolomeu Dias, em 1488, já tinha navegado pelo sul da África; Vasco da Gama, desde 1497, já cruzava o Atlântico para ir às Índias; mas faltava a descoberta de novas terras. A precisão da navegação era grande [“Navegar é preciso, viver não é preciso” – F. Pessoa], mas mesmo assim não se tratava de uma operação rigorosamente matemática [Navegar, em suma, não era tão preciso como descrevera F. Pessoa]. O achamento da Terra de Vera Cruz (que o rei D. Manuel passa a chamar de Santa Cruz) foi uma felicidade que se adicionou à missão às Índias. D. Manuel, em carta de 1501, aos Reis Católicos, diz expressamente que a armada de Cabral se dirigia à Índia; depois da descoberta teria seguido seu caminho para via do cabo da Boa Esperança; o escrivão Valentim Fernandes em 20 de maio de 1503 registrou que no incógnito mar outro orbe desconhecido de todos foi achado. A descoberta do Brasil foi um fato absolutamente novo para Portugal (e para o mundo). Em outras palavras, o Brasil é fruto de um achado!
[Origem teocrática do Brasil: Teocratismo significa o governo dominado ou influenciado pela teocracia; teocracia expressa o governo de Deus ou o governo em que os líderes civis levam a cabo uma política coincidente com a religião e crenças dominantes (governo que governa em nome de Deus ou governo que emana de Deus). O teocratismo brasileiro tem várias certidões de nascimento, destacando-se dentre elas a seguinte carta, de 1501, de D. Manuel aos Reis Católicos (da Espanha): “ (...) a frota chegou a uma terra que novamente descobriu a que pôs no nome Santa Cruz (...) a qual pareceu que nosso Senhor milagrosamente quis que se achasse porque é mui conveniente e necessária à navegação da Índia”. Para D. Manuel a descoberta do Brasil foi um milagre do Senhor. O Brasil, em suma, foi descoberto por acaso (serendipidade) e também por força de um milagre, segundo D. Manuel. Trata-se de um país achado, não de um país cuja descoberta tenha sido minuciosamente planejada].
Precisa estar logado para fazer comentários.