O Brasil é um país historicamente autoritário, regido por um capitalismo selvagem, fundado na desigualdade e no parasitismo (veja Manoel Bomfim, 2005, p. 57 e ss.). As classes privilegiadas, que astuta e ocultamente instrumentalizam as leis em seu benefício desde o colonialismo, reproduzem os seus privilégios injustos, distribuindo a maior parte da renda nacional assim como os melhores empregos aos privilegiados, ficando as classes inferiores "condenadas a reproduzirem sua exclusão e humilhação cotidianas".
Por força da nossa herança histórica, quase 70% do PIB brasileiro continua com os poucos privilegiados [das categorias de cima]. O que sobra é dividido para os outros [200] milhões de brasileiros. É o retrato da miséria e da iniquidade (afirma Jessé Souza, Estadão 30/12/13, p. C2). As classes inferiores compreendem a classe trabalhadora precária (classe C, chamada erroneamente de classe média) assim como os excluídos da "felicidade geral da nação" (chamados de "ralé", provocativamente, por Jessé Souza).
Nossas quatro classes sociais, consequentemente (segundo o mesmo autor) são: (a) no topo da hierarquia temos as pessoas com muito dinheiro e um estilo de vida e compreensão de mundo marcado pelo consumo material (são os endinheirados que somam 1% da população, mas controlam mais de 50% do PIB nacional, sob a forma de juros, lucros e renda); (b) a segunda classe privilegiada é a média, caracterizada por se apropriar de outro capital decisivo na competição social: o cultural (além dos capitais econômico, social, relacional, emocional etc.); (c) na parte de baixo da hierarquia social, onde está a maioria da população brasileira [mais de 50%], temos uma grande classe trabalhadora precária, super explorada e, em grande parte, informal; (d) ainda mais embaixo estão os excluídos [cerca de 30% da população]".
Nesse contexto de absurda concentração de riquezas, que está atrelada diretamente à nossa (maldita) história colonialista, ficar discutindo somente a corrupção estatal (leia-se: a estatal) é interessante porque desvia a atenção da desigualdade bem como dos corruptores. Quanto mais se demoniza o Estado, mais o mercado se apresenta como a materialização das virtudes (e da justiça material). Um e outro, na verdade, podem ser demônios maus ou instituições boas, tudo depende do que nós seres humanos fazemos com eles. A classe inferior, de qualquer modo, está condenada à humilhação eterna [e só tem tempo para pensar no prato de comida de cada dia]; enquanto isso a classe média consegue se dedicar ao estudo e à qualificação [ao capital cultural]. É um privilégio social poder estudar sem ter de trabalhar ao mesmo tempo.
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