Para compreendermos um pouco sobre comportamento organizacional e seu liame com a administração pública analisaremos o artigo “Medidas do comportamento organizacional” de Mirlene Siqueira.
A autora inicia dizendo que o campo do comportamento organizacional (CO) foi concebido a partir da década de 1970, como disciplina emergente e quase independente, a partir de contribuições de outras disciplinas. Diz que da psicologia industrial organizacional vieram proposições teóricas sobre as variáveis satisfação do trabalho e comprometimento organizacional, da sociologia, temas como cultura e poder nas organizações, da ciência política, os conhecimentos sobre conflitos e política nas organizações.
Afirma que o CO tornou-se, assim, uma área de teorização e pesquisa repleta de questões que precisam ser analisadas, como, por exemplo, aquelas referentes às medidas das variáveis. Para isso, Siqueira apresenta uma discussão sobre os impactos que a estrutura, a riqueza teórica e a ausência de normalização podem ter sobre as medidas do CO.
Traz a definição de Derek Pugh para o CO, como sendo o estudo da estrutura e do funcionamento de organizações e do comportamento de grupos e indivíduos dentro delas.
Siqueira aponta as diferenças doutrinárias quanto à definição e estruturação do campo do comportamento organizacional. Lembra que Payne e Pugh propuseram os primeiros esquemas conceituais para o CO, com quatro níveis de análise, sendo eles, indivíduos, equipes ou pequenos grupos de trabalho, departamentos ou outros pequenos setores organizacionais e a própria organização.
Enquanto Robbins propôs que o CO trata de uma área de investigação sobre a influência que indivíduos, grupos e estrutura organizacional exercem sobre o comportamento dentro das organizações. Explica a autora:
“Adotando três níveis de análises - individual, grupal e organizacional, Robbins (1999) propôs um modelo básico para os estudos do CO, especificando quais variáveis seriam temas de interesse de cada um. Para as análises no nível individual o autor arrola variáveis biográficas, de personalidade, valores, atitudes e habilidades. Estas influenciam os processos psicológicos de percepção, motivação e aprendizagem individuais que, por sua vez, afetam o processo de tomada de decisão individual. As análises sobre grupos/equipes de trabalho é representada no modelo por interações bidirecionais entre os processos de tomada de decisão grupal, comunicação, liderança, conflito, poder, política, estrutura de grupo e equipes de trabalho. No nível de análises sobre a organização como um todo, Robbins (1999) relaciona temas como cultura, políticas e práticas de recursos humanos, estrutura e dimensionamento da organização, bem como tecnologia e dimensionamento do trabalho. Como variáveis de resultados (outputs) do modelo, o autor aponta produtividade, absenteísmo, rotatividade e satisfação. Estes seriam os produtos da interdependência existente entre todas as variáveis incluídas nos três níveis de análises. Nota-se que as variáveis de resultados representam critérios do comportamento humano no contexto organizacional. Assim sendo, o modelo proposto por Robbins (1999) para o CO estaria superpondo o campo de investigação da Psicologia Industrial/Organizacional.”
Conclui, então, no seguinte sentido: “Mesmo sem uma revisão acerca de seu objeto de estudo e de normalização para aferição de suas variáveis, o CO representa, na atualidade, uma complexa e ainda difusa área de conhecimentos em ciências do comportamento. A pesquisa realizada neste campo, especialmente as medidas de suas variáveis, recebe impactos destas condições como será discutido a seguir.”
Quanto às medidas do comportamento organizacional, Siqueira assinala que “embora existam hoje escalas construídas e validadas para medir valores organizacionais (Tamayo & Gondim, 1996), ritos organizacionais (Oliveira, 1997), bases de poder organizacional (Flauzino, 1999), saúde organizacional (Gomide Jr., Moura, Cunha & Sousa, 1999), comprometimento organizacional (Borges-Andrade,1994; Siqueira, 1995), satisfação no trabalho (Siqueira, 1995), comportamentos de cidadania organizacional (Siqueira, 1995; Porto, 1998) e tantas outras, o CO não dispõe de uma subdisciplina que normatize a aferição de suas variáveis, como acontece com a Psicologia que conta com a Psicometria. Em face dos amplos eixos teóricos que sustentam as variáveis postuladas como componentes do CO, merecem atenção as consequências que tal riqueza de referencial imputa às suas medidas.”
Entretanto, a autora afirma que as escalas, apesar de possuírem dois grandes limitadores (a base teórica na qual a medida se fundamenta e os parâmetros de qualidade das escalas), são o instrumento de medida mais utilizado nas pesquisas sobre as organizações e conclui dizendo: “considerando-se que as atuais condições, sob as quais uma organização se toma competitiva e sobrevive, passam por alterações significativas em pequenos intervalos de tempo, não se pode admitir uma existência perene para os instrumentos de medida do CO, independentemente de suas qualidades de medição. Assim sendo, mais um desafio se apresenta aos estudiosos do CO: desenvolver medidas que, além de válidas e precisas, sejam também detentoras de sintonia com a atualidade das atividades organizacionais.”
Podemos extrair do texto, que a sobrevivência e o desenvolvimento de uma organização dependem, em muito, de sua capacidade de acompanhar as mudanças ocorridas no mundo. Sendo assim, torna-se imperiosa a necessidade de mensuração das medidas do comportamento organizacional. O desafio para os pesquisadores é desenvolver medidas que sejam válidas e precisas e que ao mesmo tempo guardem sintonia com a atualidade das atividades organizacionais, que estão em constante processo de mudança. Muito bom seria, se tivéssemos medidas de comportamento organizacional na administração pública, capazes de mensurar outros aspectos além da produtividade em si. Pois, mensurar a satisfação, a insatisfação e as expectativas dos servidores, por exemplo, resultariam, sem dúvida, em melhoria da produtividade também.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SIQUEIRA, Mirlene M. M. Medidas do comportamento organizacional. Estudos de Psicologia, v. 7, especial, p. 11-18, 2002.
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