Resumo: A interdisciplinaridade configura-se fundamental para o debate da crise ambiental e de seus reflexos socioambientais, bem como, na busca de soluções sustentáveis, o que demanda um amplo diálogo de saberes e daqueles conhecimentos que há muito têm sido ignorados pelo racionalismo científico fragmentado.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade – crise ambiental – sustentabilidade.
A interdisciplinaridade caracteriza-se como fundamental para o debate da questão da (in)sustentabilidade ambiental, e para ações específicas diante da complexidade ambiental.
Enrique Leff menciona que “a crise ambiental é uma crise do conhecimento”. (2012, p.19). Essa crise do conhecimento evidencia-se em face de que os saberes científicos postos, não são capazes de apresentar alternativas válidas para a supressão do quadro desenfreado atual de degradação ambiental e social.
Tal degradação intensificou-se sensivelmente após o término da 2ª Guerra Mundial, implantando um cenário de consumismo exacerbado e desnecessário o que, por via de conseqüência, tem gerado desde então, grandes impactos socioambientais.
Nos últimos sessenta anos, têm-se observado grandes níveis de produção e consumo, o que, entretanto, em contraposição, origina diversos reflexos ambientais e sociais. Dentre os impactos evidenciados no meio-ambiente, destacam-se aqueles consabidos, como o desflorestamento, poluição, elevado nível de emissão de CO2 e comprometimento da camada de ozônio, aquecimento global, extinção de espécies animais e vegetais, assoreamento de rios e eliminação de reservas aqüíferas. No concernente aos aspectos sociais, vislumbram-se como reflexos, a ampliação de desigualdades, desemprego, falta de oportunidades para a educação e qualificação pessoal, massificação das baixas classes sociais e exclusões sociais.
As ciências tradicionalmente fragmentadas e positivadas, isoladamente, não são capazes de trazer as respostas e soluções humanas e sustentáveis a toda a problemática apresentada diante da complexidade ambiental, isto porque, a visão totalitária e unitária científica afasta qualquer possibilidade de se contemplar visões e saberes empíricos, populares e culturais.
Neste contexto LEFF acrescenta que “A fragmentação do conhecimento aparecia como causa da crise ambiental e como um obstáculo para a compreensão e a resolução dos problemas socioambientais complexos emergentes.” (2012, p.28).
Ademais, perceptível a predominância do poder econômico capitalista, que, em seus discursos, desvirtua o entendimento e valoração do “novo” saber, impelindo a todos a um pensamento consumista, descartável, superficial, desumano e insustentável.
Neste contexto, imprescindível a busca daquele conhecimento que sempre fora desprezado e subjugado pelo conhecimento totalitário; redescobrir o saber ambiental popular e empírico que há muito tem sido ignorado ou escondido pelos falsos discursos econômicos.
O saber ambiental é complexo, demanda abordagens para além da compreensão e saberes unitários das disciplinas e ciências fragmentadas; é um saber que exige a integração dos conhecimentos sociais e ambientais para pensar o novo, irrompendo com os paradigmas e domínios existentes.
Para LEFF “o saber ambiental não se integra às ciências, mas as impele a se reconstituir a partir do questionamento de uma racionalidade ambiental, e a se abrir para novas relações entre ciências e saberes, a estabelecer novas relações entre cultura e natureza e a gerar um diálogo de saberes, no contexto de uma ecologia política em que o que está em jogo é a apropriação social da natureza e a construção de um futuro sustentável.” (2012, p.31).
Para pensar toda a complexidade ambiental na busca de soluções e respostas ao quadro desenfreado de degradação ambiental e social decorrente do pragmatismo do sistema econômico vigente, é necessária uma articulação das ciências, com vistas a um diálogo de saberes, acabando com preconceitos e paradigmas estabelecidos, criando novas formas de analisar o consabido e pensando aquilo que ainda está por ser pensado e o vir a ser.
Por fim, utilizando-se dessa interdisciplinaridade despida de preconceitos, é perfeitamente possível vislumbrar um futuro entretecido por diversos saberes articulados com vistas à sustentabilidade ambiental e, essencialmente, uma sociedade com base na igualdade e justiça social.
Bibliografia
LEFF, Henrique. Aventuras da epistemologia ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes; tradução de Silvana Cobucci Leite. – São Paulo: Cortez Editora, 2012.
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