Faleceu Fidel Castro. A partir da homenagem a sua memória, escrevo este artigo.
Diferenças de concepções religiosas ou ideológicas não devem impedir a fraterna convivência humana.
Cada pessoa pode ter sua Fé, sua visão política, sua receita para os problemas sociais, sua maneira de decifrar os mistérios da vida, sem que essas divergências impeçam o diálogo e a busca de eventuais identidades.
Acho que a Humanidade avança se, no campo da Fé, prevalece uma visão ecumênica e se, no campo da ação concreta, unem-se todos aqueles que desejam um mundo mais justo, mais igualitário, mais humano.
Com relação a Cuba, que está enlutada, reconheça-se a grandeza desse pais: pequeno no tamanho, porém imenso na dignidade. Respeitem-se as opções adotadas naquela ilha. Tenha nossa reprovação tudo que se fez no passado, ou que se faça hoje, para dificultar os caminhos da Revolução Cubana.
Mesmo morto Fidel Castro, ainda é tempo de proclamar a injustiça das proscrições, a falsidade dos argumentos que pretenderam negar o óbvio, qual seja, por exemplo, o sucesso do regime cubano nas áreas da saúde e da educação.
Que coisa linda este troféu que, com orgulho, Cuba exibe: "A cada ano, oitenta mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana. Cada noite duzentos milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana".
O bloqueio norte-americano, sofrido por Cuba durante décadas, é inaceitável. A base militar de Guantánamo não é apenas uma agressão à soberania cubana. É um acinte ao mundo.
Escreveu Leonardo Boff: O sistema imperante, de viés capitalista, diz que não há alternativa a ele, pois que representa a culminância das sociedades humanas. Fidel Castro mostrou que com o Socialismo pode haver um modelo diferente daquele do Capitalismo, hoje em radical crise. A fúria dos USA contra Cuba e Fidel, para destruir o socialismo cubano, era para mostrar que não pode haver uma outra alternativa.
Boff testemunhou ter Fidel confessado: “se no seu tempo houvesse a Teologia da Libertação, teria assumido esta leitura para montar a sociedade cubana.”
Sob pressão da Guerra Fria, Fidel foi obrigado a ficar do lado da URSS e assumir o Marxismo. Leu, entretando, e anotou obras de Gustavo Gutiérrez, Betto, Clodovis e Leonardo Boff. Os livros que leu estavam todos anotados com notas marginais. Certamente hoje essas preciosidades irão para um museu.
Durante o tempo de “silêncio obsequioso” imposto a Leonardo Boff, num gesto de tirania nazista do Santo Ofício, Fidel convidou Boff a passar quinze dias de férias com ele na ilha, para aprofundar as questões da religião, na América Latina e do mundo.
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