Não é verdade que a cultura no Brasil esteja confinada ao Rio e a São Paulo. Esta é uma percepção falsa da realidade atual do país. Pousemos os olhos num aspecto da vida cultural – a produção de obras literárias. Por todo o território brasileiro, livros são publicados.
Vitória está se tornando das mais profícuas capitais brasileiras, em matéria de lançamento de livros.
É difícil que transcorra uma semana, no máximo uma quinzena, sem que desponte, na capital do Espírito Santo, um novo rebento no campo da Literatura ou da Ciência.
Não sou titular de uma coluna de livros em jornal. Nos eventuais encontros com leitores, pelo Brasil afora, ocupo-me de um variado elenco de temas. Só uma vez ou outra, comento livros que surgem.
Acabam de ser lançadas duas importantes obras, nesta ilha que Pedro Caetano cantou nestes versos:
“Cidade sol com o céu sempre azul
Tu és um sonho de luz norte a sul
Meu coração te namora e te quer
Tu és Vitória um sorriso de mulher.”
Os livros foram estes:
“Liberdade para o abacateiro”, de Marilena Soneghet;
“Os manacás estão floridos”, de Luiz Sérgio Quarto.
Ao evento de Luiz Sérgio Quarto não pude estar presente. Nesta quadra da vida em que me encontro, ir ou não ir, registrar presença ou ter a ausência assinalada e desculpada, tudo isto depende dos humores da saúde. Luiz Sérgio Quarto, além de escritor é professor universitário. Nasceu em Iúna, comarca onde estreei no Tribunal do Júri, ao lado do irmão Paulo. O livro de Luiz Sérgio fez-me lembrar do fato. Defendemos quatro réus, acusados de homicídio. Foram absolvidos. A sessão foi presidida pelo Juiz de Direito Hélio Gualberto Vasconcelos, que veio a ser depois Desembargador. O júri foi, na época, um dos mais importantes ocorridos em Iúna. Alto-falantes externos transmitiram os debates.
À festa literária de Marilena tive a alegria de comparecer. Ocorreu na Biblioteca Estadual que está sob a competente direção de Nádia Alcuri. A Biblioteca Estadual, longe de ser apenas um espaço onde livros são guardados, conservados, catalogados e lidos (fazendo isto cumpriria seu papel), é hoje uma instituição que promove a cultura através de uma atuação diversificada.
Na primorosa antologia de crônicas de Marilena, a crônica que dá título à obra é das mais belas que li no transcorrer desta vida que já frequenta a oitava hora. Rubem Braga poderia assiná-la e esta crônica poderia juntar-se ao acervo glorioso do cronista maior deste país. O abacateiro nunca deu abacate mas cumpriu seu destino, realizou sua missão de ser companheiro da menina que o adotou. A amizade que une a menina e o abacateiro chega às raias do sublime. Quantos abacateiros há que não deram abacate mas tornaram este mundo melhor, mais bonito e mais humano.
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