Sumário: 1. Introdução. 1.1. Imigração nos Estados Unidos: um apanhado histórico. 1.2. Estados Unidos e sua relação com o México. 1.3. Reformas imigratórias: Barack Obama e Donald Trump. 1.4. Imigração sobre uma perspectiva sociológica. 2. Conclusão. 3. Referências bibliográficas.
1. Introdução
A imigração é um fenômeno de alcance mundial, extremamente discutido na atualidade. Ela, em si, é tida como a movimentação de entrada de indivíduos, com o intuito de se deslocar permanente ou temporariamente de um país para o outro. As principais causas da imigração podem ser motivos pessoais ou a busca por melhores condições de vida e/ou trabalho. Também é comum o fenômeno da imigração ser causado por perseguições ou descriminações religiosas ou políticas.
Nos Estados Unidos da América, a imigração se tornou um dos maiores fenômenos globais durante o século XX. Entretanto, devido à acontecimentos na nação, o fluxo migratório se mostrou extremamente variável com o passar dos anos. Por exemplo, na crise de 2008, os fluxos migratórios mostraram uma queda considerável. Pode-se afirmar, portanto, que a ocorrência da imigração depende de uma série de fatores, esses variando de pretextos individuais á pretextos de uma nação como inteira e a situação em que se encontra.
Nesse artigo ir-se-á analisar os fluxos migratórios dentro dos Estados Unidos à luz de políticas migratórias adotadas no país no passar dos anos. Através de uma perspectiva histórica, política e econômica o trabalho buscará demonstrar a temporalidade e variabilidade do episódio imigracional, enfatizando uma alteração política recente que seria a candidatura do republicano Donald Trump. Essa realidade pode vir a gerar turbulências nas questões imigracionais dentro da nação americana, considerando que Trump expôs que objetiva adotar medidas protecionistas e contrárias à entrada de imigrantes em território norte americano.
Também se evidenciará os aspectos sociológicos abordados nessa questão imigracional. Há muita xenofobia dentro do território americano, sendo que os imigrantes são constantemente colocados numa situação de descriminação dentro da nação. Esse conteúdo será desenvolvido a partir das visões defendidas pelos autores Zygmunt Bauman e Pierre Bordieu em suas obras.
1.1. Imigração nos Estados Unidos: um apanhado histórico
Discorrer sobre a questão da imigração dos estados unidos é algo que se prova delicado, repleto de controvérsias e incessantemente palpitante. É um assunto vulnerável, pois já envolveu muita polêmica, essas variando da proibição da entrada de chineses no território à construção de um muro que separa a nação americana do México. Controversa, pois é um tema que leva muito em consideração pensamentos políticos e a sociedade por inteira, chagando a abordar pontos complexos como direito humanos e nacionalismo. Atual, porque está em constante transformação, principalmente no âmbito jurídico com a criação de leis, com novos e relevantes acontecimentos sob novas perspectivas.
Atualmente, a estimativa é que haja cerca de 200 milhões de imigrante no mundo, ou seja, aproximadamente 3% da população global. Os Estados Unidos, por serem economicamente desenvolvidos, é o país que mais recebe imigrantes. De acordo com o Migration and Remittances Factbook (2011), o total de imigrantes nos Estados Unidos em 2010 era 42,8 milhões, sendo que, segundo o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, 11,5 milhões desses vivem ilegalmente no país. O principal conjunto de leis que rega a imigração dentro do território norte americano, Immigration and Nationality Act, traz uma definição de imigrante. Basicamente, esse conjunto define que imigrante é qualquer indivíduo que se encontre dentro da nação e que não seja nacional ou cidadão dessa, com algumas exceções.
Os índices altíssimos imigracionais dentro do território norte americano se dá por um número de fatores. Como exposto anteriormente, promessas de uma melhor qualidade de vida que o país passe mundo afora é um motivo comum por detrás da imigração. Isso é refletido de questões políticas e religiosas dos países de origem. Entretendo, o principal motivo pelos Estados Unidos ser o país com o maior número de imigrantes é devido a aspectos sociais e econômicos. O país norte-americano realmente oferece maiores oportunidades de crescimento econômico e aumento de qualidade de vida dos país de ode saem seus imigrantes.
Esse alto contingente imigracional oferece oportunidades e riscos simultaneamente. É indiscutível a importância dos imigrantes que se deram nos Estados Unidos para moldagem do país como potência econômica e política. Os imigrantes não somente participaram do progresso americano devido a sua mão-de-obra abundante e eficaz; mas também atribuindo valores culturais diversos e produzindo ou trazendo consigo conhecimentos. Isso deixa claro a participação óbvia dos imigrantes na formação do povo americano em si, eles tiveram e ainda têm um papel de esculpir a sociedade estadunidense. Os riscos, entretanto, surgem quando se desenvolveu um nacionalismo acentuado dentro do território americano. Prolifera-se a ideia negativa de excesso de estrangeiros dentro do território e surge uma indisposição clara dos americanos em recebe-los. Então os riscos seriam aqueles que são formados pelo surgimento da xenofobia evidente dentro da nação. Esse preconceito e noção negativa sobre os imigrantes teve a sua origem durante o século XIX e se estende até nos dias atuais.
No cenário pós Segunda Guerra Mundial, a ascensão dos Estados Unidos de maior potência econômica global e os inúmeros avanços tecnológicos presenciados no decorrer do século XX tornaram o país extremamente atraente. Foi nesse contexto que a imigração no país se se tornou sucessiva e atingiu níveis que seriam anteriormente chocantes. Entretanto, em 2008, quando uma forte crise econômica assola o país aspectos como a deterioração da economia americana, a redução da oferta de emprego e a diminuição de salários refletiram na imigração do país. Numa crise econômica a relação entre americanos e imigrantes ficam ainda mais instável, pois os americanos vêm os imigrantes como indivíduos que ocupam cargos que deveriam ser ocupados por nacionais. Além disso, a atratividade estadunidense decai, sendo que a crise afeta também os estrangeiros que ali habitam. O World Bank (2012) aponta que a quantidade de imigrantes nos Estados Unidos ficou praticamente estabilizada após o início da crise, enquanto que, no mesmo período, houve um aumento nas migrações de retorno para os países de origem e uma redução nas taxas de emigração destas regiões.
A crise de 2008, então, possuiu uma parcela significativa de responsabilidade na mudança do fluxo de imigração nos Estados Unidos. Mas suas consequências não se limitaram somente ao momento que se deu, a crise desenvolveu uma postura mais rígida sobre a maneira de lidar com a imigração internamente nos Estados Unidos, principalmente a imigração ilegal. Concepções de integração dos imigrantes, inclusive os ilegais, começaram a serem substituídas por pensamentos que os Estados Unidos devem ser protegidos através de políticas protecionistas e mais receosas quanto à entrada de imigrantes, principalmente os mexicanos. Aprimorou-se a segurança da fronteira americana com o México, gerando uma tensão ainda maior na área.
A divisão entre imigrações legais e ilegais surgiu com o estabelecimento do Chinese Exclusion Act, um ato aprovado nos Estados Unidos em 6 de maio de 1882. Em termos de legislações referentes à imigração americana, esse é um dos atos mais radicais e representa um divisor de águas nessa classificação imigratória. Esse ato fez com que a entrada nos Estados Unidos se estreitasse, principalmente para os chineses. Dessa maneira, com a proibição da entrada de grande parte dos estrangeiros, a imigração ilegal começou a ser “necessária” para aqueles barrados pela legislação, mas necessitados de imigrar à nação americana. Portanto, é perceptível que a partir do momento que se estabelece barreiras, regras proibitórias o número de imigrantes ilegais tende a crescer. O fenômeno da imigração é algo constante e que não será impedido plenamente por meio de legislações e barreiras físicas.
Essa consequente imigração ilegal, faz com que a imigração passe a ser cada vez mais vista como um problema. Como comentado anteriormente, a imigração era um aspecto negativo dentro de uma visão econômica pelos nacionais, cria-se que os estrangeiros tomavam os cargos que não eram deles de fato. Entretanto, no século XX, o problema imigração ganhou novas proporções. Além de ser algo baseado na economia, agora questões como segurança nacional e política surgiram. Quando os imigrantes passaram a penetrar a força as fronteiras americanas e patrulhas constantes se deram inevitáveis, a noção de imigração como nociva à segurança nacional se proliferou. Já o aspecto político se deu, pois, percebeu-se a influência significativa dos estrangeiros quanto a ideologias políticas e estabelecimento de regimes políticos. Começou-se então em levar em consideração os ideais políticos dos imigrantes, visando evitar qualquer forma de turbulência política intranacional.
1.2. Estados Unidos e sua relação com o México
A migração mexicana na década de 1910 demonstrou que imigração advinda do México não era considerada um problema muito sério, diferentemente do que se via com alguns imigrantes europeus e chineses. A partir de novembro de 1910, iniciou a chamada Revolução Mexicana, a qual foi gerara durante o governo do general Porfirio Díaz. A revolução devastou o país e abalou profundamente o campo civil da sociedade mexicana, por acabar perdurando além do período Portifiriato. Esse cenário de caos social, riscos de vida devido à guerra e crises econômicas fez com que milhares de mexicanos deixassem seu país e fossem em direção aos Estados Unidos.
O fluxo de imigrantes que se deu devido à Revolução Mexicana, entretanto é incerto. O censo de 1910 aponta que, na época, havia 221 mil mexicanos vivendo nos Estados Unidos. Em 1920, este valor era de 486 mil. Mesmo com a imprecisão da movimentação de imigrantes, é importante notar e destacar que, além de a imigração mexicana ser legalizada, ela era incentivada pelos Estados Unidos. Esse fato causa certo estranhamento, considerando a situação atual. Se hoje os imigrantes mexicanos são a maior preocupação americana em termo de imigração, no século XX não havia qualquer forma de proibição de entrada ou restrição quanto à oferta de empregos dentro da nação. As restrições estabelecidas pelos norte-americanos contra a imigração revelaram que havia uma região geográfica praticamente isenta de restrições: a América Latina, justamente a área que atualmente representa o maior desafio para os americanos em termos de imigração ilegal.
No final do século XIX, as imigrações mexicanas, no entanto, foram gradativamente aumentando, acontecimento que continuou ocorrendo durante o início do século seguinte. Com esse aumento gradativo de mexicanos no território americano e assim as diferenças culturais entres as duas nações começaram a ser acentuadas. Em maio de 1924, foi criada a United States Border Patrol, a qual objetivava barrar qualquer imigração ilegal nas fronteiras norte e sul do país. A década de 1930 mostrou uma atenuação considerável do fluxo imigratório, isso devido a políticas restritivas geradas, a grande Depressão de 1929 e a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, os mexicanos constituem o grupo estrangeiro com maior representatividade nos Estados Unidos. Devido a esse fato, eles também são foco de boa parte das políticas americanas destinadas ou controle da imigração. Conforme a tabela abaixo, os mexicanos correspondem a cerca de 31% dos imigrantes presentes nos Estados Unidos.
Entre os ilegais, o valor chegou a 59% do total em 2011, segundo dados do Departamento de Segurança Interna americano, o que representa quase 7 milhões de mexicanos vivendo ilegalmente no vizinho do norte, e pouco mais de 11,5 milhões no total. Por esses valores, percebe-se que, no caso mexicano, a imigração ilegal supera a legal. Em 2000, o Censo americano apontou pouco menos de 8 milhões de mexicanos nos Estados Unidos, dos quais 4,6 milhões eram ilegais. Isso aponta um crescimento expressivo em uma década. A proximidade geográfica é motivadora aos mexicanos e problemática para os Estados Unidos e sua tentativa de controlar a imigração.
O fenômeno da imigração entre México e Estados Unidos gera obstáculos nas relações dos dois países. Todavia, é indiscutível o fato de que os governos das duas nações têm que achar um consenso e trabalhar juntos com o propósito de reduzir a imigração ilegal. Essa é uma tarefa extremamente complicada, considerando que o México é um país repleto de conflitos internos e divide fronteira com uma nação próspera e rica.
1.3. Reformas imigratórias: Barack Obama e Donald Trump
Barack Obama
Em janeiro de 2009, Brack Obama tornou-se o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. Uma das suas mais substanciais promessas de Obama durante a sua eleição era a promoção de reformação imigratórias. O discurso retratado abaixo, que se deu em junho de 2007, é um dos diversos discursos que o democrata proferiu sobre a questão da imigração nos Estados Unidos.
Nós queremos ter uma situação na qual aqueles que já estão aqui, jogando de acordo com as regras, estando dispostos a pagar uma multa e passar por um rigoroso processo possam ter um caminho para a legalização. A maioria dos americanos vai apoiar isso se eles tiverem alguma sensação de que a fronteira também está sendo securitizada. O que eles não querem é uma situação em que há um caminho para a legalização e você possui outras diversas centenas de pessoas entrando todo ano. (OBAMA, 2007, não paginado)
A ideia de reforma imigratória une as noções de segurança da fronteira e regularização de imigrantes ilegais já adentrados no solo americano. A partir dessa, reduz-se consideravelmente a quantidade de ilegais. Obama sempre apoiou a defesa da fronteira, uma otimização no sistema de imigração dos Estados Unidos, a redução de incentivos para a entrada de ilegais no território americano e a necessidade de cooperação dos Estados Unidos e México no combate à ilegalidade.
Quando assumiu a presidência, contudo, Barack Obama não supriu as expectativas sobre os aspectos da imigração estadunidense. Durante seu primeiro ano no cargo, a tônica foi quase que ignorada por inteira, dando-se prioridade para questões do sistema de saúde e para a presença militar americana no Iraque e Afeganistão. Portanto, o ano de 2009 não foi significativo, como se esperava que fosse, no âmbito das imigrações. Todavia, no ano 2010, essa situação mudou e a imigração recebeu mais atenção na política americana.
Em abril de 2010, a governadora do estado do Arizona, Jan Brewer, assinou a lei SB 1070, a qual estabelecia a ilegalidade de um imigrante não portar consigo documentos que comprovassem sua legalidade nos Estados Unidos. Em agosto, o presidente concedeu US$ 600 milhões para a defesa da fronteira. Desenvolveu-se, também, a discussão a respeito da DREAM Act, o qual visava conceder a legalização do status de imigrantes desde que esses cumprissem exigências previamente esclarecidas. Apesar de o Obama e a maioria do Partido Democrata Americano defenderem a aprovação da lei, a resistência por parte do Partido Republicano fez com que a aprovação dessa fosse sucessivamente postergada, com derrotas oficiais.
Em 2011 pouco se alterou sobre o assunto, contudo, em 2012, com a proximidade da campanha eleitoral, o assunto voltou à tona nos Estados Unidos - embora de maneira mais tímida que o esperado. Se a questão da imigração foi fundamental nas eleições de 2008, em 2012 ela deu lugar a outros assuntos, como o desemprego, a política de vendas de armas e o aborto. Em junho de 2012, Obama implementou um programa semelhante ao DREAM Act, que determinou que diversos ilegais que chegaram aos Estados Unidos quando crianças e que cumprissem certos requisitos não mais enfrentariam o risco de deportação. A expectativa era de que entre 800 mil e 1,7 milhão de jovens pudessem ser beneficiados pelo programa, que permitiria a aquisição de alguns documentos que até então não podiam ser obtidos, como carteiras de motorista, e a possibilidade de trabalhar legalmente - embora não concedesse cidadania aos imigrantes. A maior polêmica se deu pela falta de consulta de Obama ao Congresso americano, onde certamente haveria resistência por parte dos republicanos, que chegaram a apontar a inconstitucionalidade do programa. Outra parte das críticas voltou-se à concessão de permissão para empregar imigrantes até então ilegais em um momento de desemprego elevado nos Estados Unidos.
Se a gestão Obama não conseguiu promover a reforma abrangente, como concebida na fase das eleições de 2008, em outro ponto ela chamou bastante atenção: o alto índice de deportações. Em setembro de 2011 - ou seja, cerca de dois anos e nove meses após a posse do democrata -, a quantidade de deportações durante o governo Obama chegou a pouco mais de um milhão de indivíduos. A falta de resultados práticos e o aumento das deportações contribuíram, inclusive, para que a popularidade de Obama entre os latinos sofresse duras quedas ao longo de sua gestão.
Donald Trump
Donald Trump é o candidato republicano que foi eleito agora, nas eleições americanas de 2016. Durante a sua campanha, Trump, afirmou que em seu governo iria adotar medidas políticas protecionista extremas, como a sua promessa de forçar o México pagar pela construção de um muro na fronteira, como forma de cessar inteiramente a imigração mexicana para dentro da nação americana. Como o republicano, entretanto, não assumiu cargo até este momento, as análises feitas em cima das propostas que Trump fez são formas de suposição. Se, de fato, Trump tomar as providências que declarou, o fluxo imigratório norte-americano sofrerá intensas mudanças, arrefecendo de maneira rápida, principalmente se considerarmos que o candidato possui grande apoio dentro do Senado americano.
É importante expor, porém que ao defender ideologias que podem ser consideradas mais extremas e preconceituosas, Trump causará efeitos bem maiores do que somente na imigração. Quando se aplica tal bloqueio imigracional, há reflexos tanto sociais, quanto econômicos. Se a figura que representa o governo americano se mostra um indivíduo com pensamentos preconceituosos para com estrangeiros, atos anti-imigrantista irão ser incentivados. E no mais os imigrantes são bastante relevantes para a economia americana. Como exposto previamente, os Estados Unidos é composto por um contingente regalado de estrangeiros dentro do seu território, sendo que esses são produtores de conhecimento e participantes na movimentação da economia americana. Os imigrantes presentes dentro da nação americana já fazem parte do país. Eles foram ativos na formação da cultura norte-americana e no conhecimento que agora lá se tem.
Essas medidas que podem ser tomadas por Donald Trump são turbulentas ao nível de, mesmo antes de serem implantadas, estão causando conflitos entre as próprias federações da União. A cidade e o condado de Los Angeles são lar de 3,7 milhões de pessoas de origem mexicana, a segunda cidade onde moram mais mexicanos, depois da Cidade do México; e é um exemplo de estado norte-americano que se recusa a aceitar as diligências do republicano. O prefeito de Los Angeles, Eric Gacetti, relatou que acolherá e protegerá os imigrantes, apesar das promessas anti-imigração feitas por Donald Trump, e garantiu que cerca de 60 mil pessoas terão, em breve, a residência legal. A Califórnia virou um campo de batalha devido às políticas de imigrações que Trump pretende estabelecer. Esse é uma das áreas mais liberais quando se trata de medidas tomadas para lidar com imigrantes ilegais, sendo que lá é concedido a eles diversos benefícios que seriam, supostamente, benefícios de um cidadão norte-americano.
1.4. Imigração sobre uma perspectiva sociológica
Ao perceber que a imigração é um assunto que abrange diversos aspectos, é notável a influência dela sobre a sociedade. Imigração é uma questão política, econômica e histórica mundial; dependente de tópicos como cultura e religião. Os estrangeiros que adentram um território nacional influenciam, de diversas maneiras essa nação e a sua população. A convivência entre estrangeiros e nativos é uma das formas mais efetivas de influência de uma sociedade sobre a outra, sendo que é estabelecida uma relação complementar, as duas adicionam à cultura e ao conhecimento uma da outra. Concepções negativas como xenofobia, sentimento nacionalista exacerbado e desrespeito para com os indivíduos advindos de outros países são outras consequências claras da ação do fenômeno da imigração sobre um povo.
Zygmunt Bauman discute muito bem esse efeito de influência entre pessoas na sua obra “Observação e sustentação de nossas vidas”. Nela o autor argumenta que pertencer a um grupo, ou seja, conviver com indivíduos é um processo que interfere na autoconcepção da própria pessoa. A chamada multidão desconhecida a que Bauman se refere é justamente sobre essa comunhão possibilitar uma espécie de libertação de formas de viver que não se escolhe. Quando se há uma convergência de culturas e formas de se viver dentro de uma comunidade, o indivíduo tem a possibilidade de escolha de existir da melhor forma que entende ser.
Entretanto, Bauman e sua obra se comunicam também com os efeitos negativos da imigração, que é o surgimento de concepções nacionalistas excessivas. O autor afirma que, quando em sociedade e me grupos, sempre tenta-se formar uma distinção entre “nós” e “eles”, sendo que “a primeira categoria se refere a algum grupo a que sentimos pertencer e que entendemos. A outra, ao contrário, a grupos a que não temos acesso nem queremos integrar.”. Essa não integração remete necessariamente à segregação, que se desenvolvida e levada para o aspecto imigratório torna-se a xenofobia. O sentimento de não querer um indivíduo que não compartilha da sua nacionalidade integrado no seu meio, convivendo e vivendo próximo da sua esfera cotidiana.
“Vimos que ser "nós", contanto que haja "eles", é algo que só faz sentido no conjunto, em sua mútua oposição. Além disso, "eles" pertencem um ao outro e formam um só grupo, porque todos e cada um deles partilham a mesma característica: nenhum deles é "um de nós"”. (Zygmunt Bauman, “Observação e sustentação de nossas vidas” pág. 61)
A obra “Sobre o poder simbólico”, de Pierre Bordieu, também se relaciona com o contexto do fluxo imigratório, mas mais na questão de sentimento de superioridade de uma nação/um povo sobre outra (o). No seu texto Bordieu explica a existência de um poder simbólico, o qual consiste em “um poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”, ou seja, em um poder que se assenta quando, mesmo que evidente, os indivíduos não o reconhecem. É uma situação em que um indivíduo se encontra num estado de submissão, mas esse não o descobre, não o percebe.
Esse cenário é comum entre os imigrantes quando recebidos pelas outras nações. A busca por melhores condições de vida ou a vontade de mais oportunidades às vezes cegam os estrangeiros ao fato que eles se submetem, muitas vezes, a tratamentos desumanos e desrespeitosos pelos que creem que pertencem à nação.
“A classe dominante e? o lugar de uma luta pela hierarquia dos princípios de hierarquização: as fracções dominantes, cujo poder assenta no capital econômico, tem em vista impor a legitimidade da sua dominação quer por meio da própria produção simbólica, quer por intermédio dos ideólogos conservadores os quais so? verdadeiramente servem os interesses dos dominantes por acréscimo, (…). “ (Pierre Bordieu, “Sobre o poder simbólico”, pág. 12)
Bordieu expõe que ideologias “devem a sua estrutura e as funções mais especificas às condições sociais da sua produção e da sua circulação (...)”, sendo que está intrínseco a elas interesses específicos “sem cair na ilusão idealista a qual consiste em tratar as produções ideológicas como totalidades autossuficientes e autogeradas, passiveis de uma análise pura e puramente interna (...)”.
2. Conclusão
A questão imigratória, portanto, é algo que deve ser discutido e evidenciado como aspecto de importância mundial. Seus reflexos sobre as nações são gigantescos mesmo sendo variável com o tempo. A imigração aos Estados Unidos não é mais uma mera questão de aproveitamento de oportunidades. Ela tornou-se muito mais que isso ao longo do último século. É evidente que o componente da possibilidade de crescimento econômico ainda é fortemente presente, mas diversos outros elementos foram agregados a essas migrações ao longo do tempo. A formação de redes de imigração; a presença cultural maciça de elementos estrangeiros na sociedade americana e vice-versa; o imaginário que se criou a respeito dos Estados Unidos como um país em que qualquer indivíduo pode crescer econômica e socialmente; e mesmo o grande negócio representado pela imigração ilegal. A imigração aos Estados Unidos passou a ser um verdadeiro fenômeno, daqueles que mesmo os mais leigos no assunto possuem uma opinião a respeito, capaz de produzir as mais variadas manifestações culturais, eleger políticos e mudar o destino de povos inteiros.
Cada século trouxe diferentes tendências migratórias: já houve colonização de territórios desabitados, corrida por recursos naturais que hoje estão esgotados, fuga de regiões de atraso econômico. Mas esse já não tão novo século XXI surge de forma particular, sob os efeitos da tão difundida globalização e das facilidades cada vez maiores de informação e transporte. Sejam quais forem os caminhos trilhados pelas migrações aos Estados Unidos à luz desse novo contexto, o certo é que o papel dos estrangeiros na construção da sociedade americana continuará sendo de fundamental importância. A onipresença estadunidense em diversos âmbitos, da preocupação universal com sua política interna à difusão cultural maciça que atinge quase todo o planeta, também se encarregará de manter aceso o desejo de migrar ao país e a criação de estímulos para possíveis futuros migrantes. Por fim, a forma de governo americana - república constitucional - também auxiliará a promover a imigração baseada em fatores políticos, oferecendo um diferencial em relação a outros possíveis destinos migratórios.
3. Referências bibliográficas
· BAUMAN, Zygmunt; MAG, Tim. Observação e sustentação de nossas vidas. In: BAUMAN, Zygmunt; MAG, Tim. Aprender a pensar com a Sociologia. Traduzido por Alexandre Werneck. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 51-73
· BOURDIEU, Pierre. Sobre o poder simbólico. A força do direito. Elementos para uma sociologia do campo jurídico. In: BOURDIEU, Pierre. O Poder simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand. 1989. P. 7-16 e 209-254.
· SEVERIANO, Alan; LOIS, Lucas. Propostas para a imigração ilegal dividem eleitores nos Estados Unidos. 2016. Disponível em <http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2016/10/hillary-e-trump-apresentam-projetos-diferentes-para-imigracao-nos-eua.html>. Acesso em 28/11/2016
· DOS PASSOS, Cheili Rieta. Imigração: a busca pela quebra das fronteiras. 2013. Disponível em . Acesso em: 28/11/2016
· CERVO, Amado. Inserção internacional: formação dos conceitos brasileiros. São Paulo: Sa- raiva, 2008.
Acadêmica de Direito pela Universidade de Brasília - UNB. <br> <br>
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: BIZZI, Ana Sofia Coutinho. Imigração nos Estados Unidos Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 15 ago 2018, 04:30. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/ArtigOs/52136/imigracao-nos-estados-unidos. Acesso em: 01 nov 2024.
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