O axioma de que a facilidade de acesso à informação possibilita a interação face a face entre pessoas nos diversos cantos territoriais permite também afirmar que não existe hoje nada mais distribuído e disseminado do que a informação. Não existe mais um mundo estável, baseado somente em experiências individuais, que busca explicar os fenômenos de forma empírica e responder todas as questões. Daí a necessidade das organizações desenvolverem estruturas tecnológicas e, pela atividade de Inteligência, aumentar a capacidade de solucionar problemas, realizar diagnósticos mais precisos em direção à realidade atual e com visão de contexto.
Na nova era, fatores determinantes de mudança na sociedade estão associadas à velocidade, conectividade, intangibilidade (Davis, Meyer, 1999) e à complexidade ambiental (Mintzberg, 2003). Esses fatores influenciam no modo de interação das pessoas e na eficiência das organizações. No mesmo sentido, o crime adquire novas características de organização, planejamento, diversificação de atividades, atuação sem limites territoriais, facilidade de comunicação e acesso à informação. Ações criminosas têm se apresentado predominantes à capacidade do Estado, este, temendo mais as conseqüências políticas do que sociais, submetendo as organizações policiais a um confronto desafiador.
A eficiência e a rapidez dos sistemas de transporte e comunicação facilitam e abrem espaço para um processo que pode ser chamado de globalização do crime. Este fenômeno é caracterizado por vários fatores, entre eles, a evolução tecnológica que abre campo a novos delitos, a dos crimes cibernéticos, cuja atuação transcende os limites territoriais, sem falar dos crimes, efeitos replicadores, decorrentes das ações terroristas no mundo. As organizações criminosas exercem suas atividades sem divisas ou fronteiras, demonstrando poder de articulação, planejamento e sofisticação. O narcotráfico, contrabando, pirataria, crimes financeiros, corrupção, fraudes milionárias são as áreas preferidas, bem como a imensidade de outros delitos que assumem uma condição quase imbatível, causando prejuízo incalculável ao Estado e à sociedade em geral.
Cada vez mais a atividade policial defronta-se com situações complexas, exigindo mais da investigação. Diante desta situação, as organizações buscam e fazem uso da tecnologia da informação, edificando infra-estruturas com o objetivo de obter mais rapidamente informações e busca de significado e conhecimento sobre o crime.
É fundamental que setores, investigadores e dirigentes de uma organização policial compartilhem conhecimento, identificando tendências, padrões de comportamento, revelando as conexões existentes entre atividades criminosas e realizando investigações de forma mais global. A investigação policial empírica está ruindo, evidenciando a necessidade de novos métodos, com inteligência distribuída, de maneira sistêmica e horizontal, possibilitando a consolidação de informações, oriundas de diversas fontes, num fluxo e transmissão por toda a rede da organização, de modo que todos tenham acesso e com o mesmo objetivo. Na visão de Morgan (2006), uma organização com inspiração de um cérebro vivo é capaz de aprender, ter memória e oferece uma imagem poderosa de organização ideal, perfeitamente adaptada aos requisitos da era digital.
Por final podemos afirmar que o desempenho investigativo é aumentado pela Inteligência Organizacional, apoiado na tecnologia e por um modelo organizacional em rede de conhecimento, onde todos os componentes (setores de investigação, agentes, ou grupo de investigadores) são disseminadores de informações e participam do processo de criação do conhecimento, funcionando como se fossem neurônios de um cérebro.
A Inteligência Organizacional considera a eficácia global da organização, do ponto de visão da sua inteligência total, ou sua habilidade para fazer coisas de um modo inteligente. A Inteligência organizacional pode ser definida como a capacidade da organização para mobilizar toda a capacidade intelectual, e para o foco de capacidade intelectual em alcançar sua missão. Organizações anacrônicas, fortemente burocráticas e hierarquizadas tendem a se derrotar desperdiçando energia humana e falindo na capitalização da inteligência das pessoas. Organizações "inteligentes" tendem a ter sucesso pela multiplicação da inteligência pelas pessoas e num processo colaborativo.
Celso Moreira Ferro Júnior, o autor
Advogado. Pesquisador, Consultor em Direito Digital, Segurança, Inteligência Empresarial, Lei Geral de Proteção de Dados e Operações de Informação. Doutorando em Direito Constitucional pelo IDP, Mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação pela Universidade Católica de Brasília - UCB. Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal no período de 1981/2009. Graduado em Direito pela AEUDF (atual UDF) em 1987. Especialista em Inteligência Estratégica - UNIEURO, Especialista em Gestão de Tecnologia da Informação - UNB, Especialista em Polícia Judiciária - UCB e em Gestão da Informação Policial - PCDF. Especialista no Ciclo de Estudos de Política e Estratégia - ADESG/DF, Coordenador e professor em Cursos de Graduação e Pós Graduação Lato Sensu. Concentração de estudos em Direito Digital, Inteligência Artificial, Gestão do Conhecimento, Inteligência Policial, Inteligência Tecnológica, Cognição Investigativa, Fusão da Informação e Inteligência Organizacional. Escritor e Conferencista em vários Seminários e Eventos Nacionais e Internacionais sobre Segurança Pública e Inteligência.
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