Carlos Lupi, exímio praticante da arte de produzir dificuldades para vender facilidades, produto extremamente rentável na área política nacional, especialmente nestes 10 últimos anos do governo petista, e que se julga o eterno donatário do feudo do Partido Democrático Trabalhista (PDT) por conta de ter sido cria de Leonel Brizola, é o mesmo que em dezembro de 2011 solicitou “exoneração” do cargo de ministro do Trabalho e Emprego, após memorável e rocambolesco episódio em que foi acusado por denúncias de corrupção. Volta agora à ordem do dia como mercador da venda de apoio político.
Aliás, é importante recordar que por ocasião de sua “exoneração a pedido”, ele seguiu a mesmíssima regra ditada na defenestração de entes do atual e anterior governo do PT, ou seja, de pé no traseiro, mas sob o refino idiomático de “saída a pedido”. Até Valdomiro Diniz, então assessor direto de José Dirceu, flagrado pedindo propina ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, saiu oficialmente pela mesma via...
Carlos Lupi foi o sétimo ministro que desabou no primeiro ano de mandato da atual chefe do Executivo. E por razões revestidas também de branda candura. Por “malfeitos”, neologismo criado pela titular do Planalto, que tem verdadeira adoração por aparências ufanistas, ainda que esdrúxulas e inconvincentes. Afinal, em bom português, corrupção é crime que tem de ser punido não só com demissão sumária, mas acompanhada do que foi surrupiado, especialmente quando se trata de recursos do erário.
Depois de risíveis e burlescas juras de amor à presidente e das bravatas do tipo “daqui só saio morto”, Lupi retirou-se quietinho, quietinho (e claro que também “a pedido”) sendo substituído por um mero interino, isto é, o secretário-executivo da pasta. Em maio de 2012, Carlos Daudt Brizola, neto de Leonel Brizola, histórico desafeto de Lupi no partido, foi nomeado por Dilma com a recomendação de por fim à “fábrica de sindicatos” representada por ilegalidades que eram praticadas no setor de registro de entidades sindicais.
Mas o mais importante desta história, no âmbito sindical, é de que o episódio seria cômico, não fosse trágico o fato de o Planalto se incomodar apenas com a criação de novos sindicatos (especialmente os que não são do raio de ação do PT) e quando se sabe de sobejo que o problema central do atraso sindical reside na falta de uma reforma radical de sua legislação de 70 longos anos, que, além de anacrônica, foi incorporada ao longo do tempo por vícios e mazelas sem fim. Porém, ao Poder Executivo exercitar este dever constitucional, nem pensar. Acabar com o famigerado imposto sindical, que alimenta, sem qualquer fiscalização, o imenso balcão de negócios e que se tornou meio de vida de muita gente? Pois sim! Só na oratória. Não rende votos para quem persegue a tarefa de se eternizar no poder.
Mas voltando ao recém-demitido Brizola Neto. Sua equipe efetuou uma verdadeira devassa nos arquivos do MTE, resultando na constatação de milhares de registros irregulares. Com isso, 862 sindicatos estão impedidos de recolher a contribuição sindical de seus filiados. E em 26 de fevereiro último, anunciou uma nova Portaria regulando as normas do registro sindical, cujos dados foram estuprados por Lopes e companhia. Contudo, pouco mais de quinze dias do feito, foi posto no olho da rua por Dilma, que alega (como interesse nacional) que precisava renegociar a coalizão com o PDT. Como quem resolve isso no partido é Lupi, que, por sua vez, detesta o neto de Leonel Brizola, está claro que impôs sua saída para as “negociações”.
Ora, então por seu desempenho, Brizola Neto foi destituído do cargo não por defeitos, mas por qualidades? Daí advém a contradição que a titular do Planalto dificilmente conseguirá explicar de forma convincente e sob a rigorosa ótica do interesse público. Demitiu Lupi por denúncias de corrupção na concessão de registros sindicais. Seu sucessor teria agora colocado uma tranca na tal “fábrica de sindicatos” e foi “premiado” com sua exclusão do cargo, sendo substituído por Manoel Dias, secretário geral do PDT, que outro não é não apenas o braço direito, mas também o mindinho e o dedão de Lupi que, certamente, voltará a dar as cartas no mesmo ministério de onde saiu sob intenso clamor público.
Assim, a mesma autoridade que destituiu a criatura, acaba de ressuscitá-la, na pessoa de um seu fiel subalterno. Inútil sofismar que a interlocução se deu com outros entes do PDT, pois quem assina o canhoto da “nota de prestação de serviços” e recebe o cheque de pagamento pela cognominada “coalizão”, chama-se Carlos Lupi, o todo-poderoso do PDT. Como se observa, não importam razões de Estado, muito menos os mais comezinhos princípios da moralidade pública. Prevalecem as de governo, do interesse de seus integrantes, ainda que menores. Agora, enfim, ficou claro o recente recado de Dilma “de que na época da eleição a gente faz o diabo”. Pelo jeito, o demônio e sua tropa já estão na boca do túnel, prontinhos para entrar em campo, ainda que a 20 meses do pleito presidencial...
Vale advertir, todavia, que a presidente e seu inseparável padrinho político podem ter dado um mortal tiro no pé. Ao contrário do donatário do PT, Lupi pode ter autoridade formal e estatutária a respeito de que no PDT é a ele que deve ser entregue o cheque pelo serviço ainda a prestar. Mas quanto ao poder de irrestrita obediência e, como tal, de pacífica unidade do PDT...
O que mais aduzir diante desse novo e obscuro capítulo? Que trabalhismo, sindicalismo e demais valores de real interesse da sociedade estão tristemente relegados à posição secundária por governantes que ambicionam manter-se no Poder pela gula insaciável da preservação e perenidade de poder?
Escusado fazê-lo. Disso todos nós já sabíamos. Só que agora temos em mãos o recibo autenticado e com firma reconhecida. E passado pela mesma autoridade que manda prender, manda soltar e que ao negociar com essa gente ainda faz questão de impingir a impressão de que isso é feito em nome de soberanos interesses do Estado...
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