Ufanisteu: País nenhum se equipara às virtudes do Brasil. Cabe-nos convencer de que cotidianamente temos que agradecer à força divina por haver ela nos outorgado por berço o Brasil! Aos meus argumentos todos os brasileiros devem juntar novos fatos e engrandecer o amor pelo país ordeiro e hospitaleiro, dedicado à paz.
Aziaghus: Que belas imagens e narrativas, Ufanisteu, você criou para nosso povo e nosso território! Mas depois de 513 anos de pesada construção, nem tudo é um mar de rosas. Ainda é intensa a brutalidade do nosso povo, que anda se matando barbaramente (sobretudo nas classes baixas, as menos educadas). Hoje o Brasil está entre os 20 países mais violentos do mundo!
Ares: A violência e a morte, Aziaghus, fazem parte da nossa história ibérica, regada a sangue e lágrimas. Já antes de Cristo as guerras eram frequentes. O Império romano tomou a Espanha dos cartagineses, mas o povo lutou contra ele durante dois séculos. A guerra é do caráter dos povos espanhois e portugueses. Depois de 4 séculos de relativa calma na península, os visogodos tomam o território dos ramanos: são bárbaros que passam “assolando, saqueando e devastando tudo; a onda de tribos encontrava abundante pasto para cevar a sua fome de gozo” (como diz M. Bomfim). As lutas não cessam. Os visogodos expulsaram em seguida os vândalos e guerrearam contra os alanos e suevos, aniquilando-os. Os visogodos mantinham o eixo da autoridade e o gozo das riquezas saqueadas.
Agathon: Jamais o brasileiro irá compreender a violência infinita do seu país, em pleno século XXI, enquanto não entender a sua história, não de 500 anos, sim, de milênios. Caro Ufanisteu: quando os espanhois e portugueses invadem o Novo Mundo, no final do século XV, eles já contavam com mais de 10 séculos de guerras contínuas. Esses povos guerreiros disseminaram a violência adquirida nos territórios conquistados. O Brasil não nasceu do nada. Não nasceu zerado. Os povos invasores derramaram por lá mais de um milênio de guerras sanguinárias generalizadas. O desfrute das riquezas saqueadas e usurpadas fazia parte da cultura deles. Nada estranho que tenham ido para o Novo Mundo para explorá-lo, saqueá-lo, usurpá-lo, dele extraindo tudo quanto era possível. Toda violência estava autorizada, desde que houvesse conversão dos povos primitivos ao catolicismo. Assim diziam as bulas papais da época. Era biologicamente impossível criar um Brasil sem violência, sem cobiças parasitárias e sem fé (F. Weffort).
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