RESUMO: O presente artigo tem por objetivo, através da análise doutrinária e bibliográfica sobre neoliberalismo e Imaginario Social, observar como a linguagem é construida a partir do Imaginario Social sobre o neoliberalismo e todas as suas ferramentas de poder. No mais, os indivíduos em uma sociedade se definem como individuais, priorizando sempre a sua felicidade perante o bem estar do todo. Essa configuração atual da sociedade acabou sendo marcada por uma grande mudança, inédita e ao mesmo tempo inelutável, que levou a introdução do neoliberalismo, que através da linguagem e do discurso, impõe o seu entendimento. Outrossim, é através da linguagem articulada e imposta por um governo neoliberal que torna possível uma sociedade voltada para o mercado e para a economía. Assim, a pesquisa buscou constatar a o quão latente é a utilização da linguagem, e, consequentemente, do Imaginário Social dentro do sistema de controle e repressão imposto pelo sistema neoliberal frente a uma sociedade.
Palavras-chave: Neoliberalismo. Linguagem. Imaginário Social. Mercado. Economia.
ABSTRACT: The objective of this article is to examine the doctrinal and bibliographical analysis about neoliberalism and the concept and understanding of social imagery to observe how language is constructed from the social imaginary about neoliberalism and all its power tools. Moreover, individuals in a society define themselves as individual, always prioritizing their happiness over the well-being of the whole. This current configuration of society was marked by a great change, unprecedented and at the same time ineluctable, which led to the introduction of neoliberalism, which through language and discourse imposes its understanding. Moreover, it is through the articulated language imposed by a neoliberal government that makes possible a society focused on the market and the economy. Thus, the research sought to find out how latent is the use of language, and, consequently, the social imaginary within the system of control and repression imposed by the neoliberal system against a society.
Keywords: Neoliberalism. Language. Social imaginary. Marketplace. Economy.
SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO. 2. O IMAGINÁRIO SOCIAL FRENTE AO NEOLIBERALISMO. 3. O IMAGINÁRIO SOCIAL FRENTE AO ENTENDIMENTO DE LEBRUN. CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS.
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa visa analisar a temática sobre o neoliberalismo e o Imaginario Social, observarvando como a linguagem é construida a partir do Imaginario Social sobre o neoliberalismo e todas as suas ferramentas de poder. E, assim, entender como a linguagem é primordial para a ascensão e solidificação do neoliberalismo em uma sociedade.
Outrossim, o Imaginário Social se torna entendível e comunicável diante da produção dos “discursos”, nos quais e pelos quais se efetua a reunião das representações coletivas em uma linguagem. Os signos investidos pelo imaginário social correspondem a outros tantos símbolos.
Além do mais, o conceito de neoliberalismo como um termo foi concebido em 1930, quando era necessária uma fórmula teórica para evitar a recuperação da crise econômica no início de 1930. O grupo de intelectuais liberais reunidos em Paris para o Colóquio Walter Limppmann estabeleceu o conceito de neoliberalismo com a intenção de renovar o liberalismo, rejeitando o velho “laissez faire” para evitar as falhas do capitalismo, coletivismo e socialismo. O consentimento unânime dos primeiros intelectuais neoliberais foi reunir duas ideias: (1) criar um novo projeto liberal e (2) rejeitar os fracassos e armadilhas do capitalismo.
No mais, o neoliberalismo significa um conjunto de políticas extremamente heterogêneas discutidas, pela maioria dos governos do mundo, independentemente de sua posição política formal. A União Europeia, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) presidem esse conjunto de ritos (ritos necessários para a boa ocorrência do sistema neoliberal), carimbando-o com seu selo de aprovação e dando-lhe o valor de exemplo e o endosso de autenticidade. A massa midiática e a discussão dos intelectuais. Os meios de comunicação de massa e os intelectuais discutem todas as questões envolvidas, mas apenas termos técnicos, enquanto a esquerda faz o mesmo, acrescentando a ela a contagem dos danos causados e consternações formais
Ademais, na sociedade atual, com a utilização demasiada dos meios tecnológicos, como, por exemplo a internet e a televisão, o simbolismo tomou outra vertente. Com a ascensão do neoliberalismo, a conduta de consumo exacerbado é imposta, com sujeitos consumidores esmorecendo atrás de um discurso e de uma política imposta, principalmente, através dos meios tecnológicos, por líderes de Estados apenas preocupados com o giro de capital e com o bom andamento do mercado
Em suma, é indubitável que o Imaginário Social através da linguagem está sendo utilizado pelo poder neoliberal para manipular e persuadir os indivíduos a acatarem o estipulado pelo governo. Assim, é através dos meios tecnológicos, como, por exemplo, a televisão, que os cidadãos passam a consumir um amplo discurso neoliberal centrado, principalmente, na individualidade e no consumo.
2 O IMAGINÁRIO SOCIAL FRENTE AO NEOLIBERALISMO
Atualmente, os sujeitos se definem como individuais, na busca da sua própria felicidade. A configuração atual da sociedade acabou sendo marcada por uma grande mudança, inédita e ao mesmo tempo inelutável, e que levou a introdução do neoliberalismo, que através da linguagem e do discurso, impõe o seu entendimento.
De acordo com o pensamento de Lebrun, por Imaginário Social há a presença de um caráter simbólico e de representação social:
Por Imaginário Social entendemos que cada sociedade sempre teve o encargo de construir, de saber, uma ficção cujo caráter de estrutura simbólica não deixa dúvida alguma e que sustenta cada um de seus membros em sua tarefa de transmissão das condições necessárias para ali poder assumir seu lugar. Também é esse Imaginário Social que coleta e conserva aquilo a que todos naturalmente se referem. [1]
Baczko assinala que é por meio do imaginário que se podem atingir as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. É nele que as sociedades esboçam suas identidades e objetivos, detectam seus inimigos e, ainda, organizam seu passado, presente e futuro. O Imaginário Social expressa-se por ideologias e utopias, e por símbolos, alegorias, rituais e mitos. Tais elementos plasmam visões de mundo e modelam condutas e estilos de vida, em movimentos contínuos ou descontínuos de preservação da ordem vigente ou de introdução de mudanças. [2]
Outrossim, Baczko assevera sobre o disposto anteriormente:
A imaginação social, além de fator regulador e estabilizador, também é a faculdade que permite que os modos de sociabilidade existentes não sejam considerados definitivos e como os únicos possíveis, e que possam ser concebidos outros modelos e outras fórmulas. [3]
Foi o advento da democracia moderna – através da Revolução Francesa - que possibilitou o abandono do conceito de Imaginário Social, que tornava cada indivíduo subordinado da figura de um outro sujeito - sendo esse sujeito personificado, por exemplo, na figura de Deus ou do rei. Esse sujeito pelo qual o indivíduo se subordinava, o limitava a ocupar um local definido de antemão. [4]
Ao longo dos anos, a evolução da democracia se afastou de sua origem. O conceito de Imaginário Social acabou sendo construído de uma forma em que cada indivíduo pode, considerando-se autônomo, pensar como definitivamente livre de toda submissão. [5]
O Imaginário Social de hoje é aquele tenta alcançar o seu poder de fala, de decisão, priorizando a si. Assim, o novo Imaginário Social para Lebrun, é aquele em que o lugar da subtração do gozo em proveito do coletivo não é mais aceito, priorizando a ideia da individualidade, tão reverenciada e aceita pelo neoliberalismo. [6]
O conceito de neoliberalismo como um termo foi concebido em 1930, quando era necessária uma fórmula teórica para evitar a recuperação da crise econômica no início de 1930. O grupo de intelectuais liberais reunidos em Paris para o Colóquio Walter Limppmann estabeleceu o conceito de neoliberalismo com a intenção de renovar o liberalismo, rejeitando o velho “laissez faire” para evitar as falhas do capitalismo, coletivismo e socialismo. O consentimento unânime dos primeiros intelectuais neoliberais foi reunir duas ideias: (1) criar um novo projeto liberal e (2) rejeitar os fracassos e armadilhas do capitalismo. [7]
Após 1960, o termo neoliberalismo declinou e só teve um novo momento de utilização em 1980 em conexão com Augusto Pinochet, na reforma econômica do Chile. [8]
O termo neoliberalismo se tornou comum em 1970-1980, por causa do ressurgimento das ideias do “laissez faire”, da economia liberal, do livre comércio, da desregulamentação, da privatização, da austeridade fiscal e do desmantelamento dos benefícios sociais que se concentraram nas áreas resumidas nos dez pontos de Callinico propostos no início deste capítulo. [9]
Sendo o neoliberalimo, no entanto, historicamente realizado hoje - ajudado pela influência desordenada dos meios de comunicação de massa que compõem a internet, pelas políticas econômicas introduzidas por Margaret Thatcher no Reino Unido, Ronald Reagan nos Estados Unidos e Pinochet no Chile, o neoliberalismo é comumente associado ao neoconservadorismo e a austeridade, o chamado Consenso de Washington, políticas orientadas para o mercado livre, economia do lado da oferta, expectativas racionais e monetarismo. [10]
A natureza enevoada/turva do neoliberalismo reside nessa compreensão comumente aceita e simplificada do estado neoliberal. Nesse terreno político e economicamente controverso, a economia encontra a política, partindo do pressuposto de que o conhecimento neoliberal da dinâmica socioeconômica é cognitivamente superior porque aplica os indicadores científicos de eficiência, eficácia e equidade, características fascistas do mercado. [11]
O neoliberalismo é uma alteração qualitativa da governamentalidade liberal ao longo de dois movimentos diferentes, mas inter-relacionados: mercado e concorrência, em primeiro lugar, não são mais representados como resultados naturais e autossustentáveis, mas como mecanismos que devem ser protegidos e cuidados pelo Estado. Além disso, os itens de marcador e de concorrência não estão mais limitados ao que tradicionalmente parecia ser economia, mas que todas as relações sociais devem ser sujeitas e reorganizadas de uma maneira que faça com que os mercados e as competições funcionem. [12]
Atualmente, neoliberalismo significa um conjunto de políticas extremamente heterogêneas discutidas, pela maioria dos governos do mundo, independentemente de sua posição política formal. A União Europeia, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) presidem esse conjunto de ritos (ritos necessários para a boa ocorrência do sistema neoliberal), carimbando-o com seu selo de aprovação e dando-lhe o valor de exemplo e o endosso de autenticidade. A massa midiática e a discussão dos intelectuais. Os meios de comunicação de massa e os intelectuais discutem todas as questões envolvidas, mas apenas termos técnicos, enquanto a esquerda faz o mesmo, acrescentando a ela a contagem dos danos causados e consternações formais. [13]
No neoliberalismo, se está diante de uma assunção do individualismo, sendo essa a marca da época atual. Antes de falar em individualismo, é importante entender esse sujeito. [14]
Esse novo sujeito deve ser acrítico, precário e psicotizante, ou seja, deve ser um indivíduo disponível e aberto, mas priorizando a sua individualidade. [15] No mais, menciona Dufour: “Um sujeito incerto, indefinidamente aberto aos fluxos de mercado e comunicacionais, em carência permanente de mercadorias para consumir”. [16]
Sabendo disso, tem-se que a forma de sujeito que mais se amolda ao neoliberalismo é a forma do sujeito esquizo de Deleuze, que é o único capaz de navegar pelos fluxos múltiplos exigidos. [17] Assim, evidencia:
É o sujeito liberado do domínio das grandes narrativas soteriológicas (religiosas ou políticas), o sujeito “pós-moderno”, entregue a si mesmo, sem anterioridade nem finalidade, aberto apenas para o aqui e agora, conectando tão bem quanto mal as peças de sua pequena maquinaria desejante nos fluxos que a atravessam. [18]
Além disso, a ideologia neoliberal funciona através de agentes neoliberais que, como podemos ver, distorcem, e, acima de tudo, limitam a linguagem e a lógica para usá-las na implementação de abordagens pseudo-acadêmicas e gerenciais, gerenciamento de consentimento e controle, construção de corporativismo. [19] Isto posto, Dufour assegura:
O que o neoliberalismo quer é um sujeito dessimbolizado, que não esteja mais nem sujeito à culpabilidade, nem suscetível de constantemente jogar com um livre arbítrio crítico. Ele quer um sujeito incerto, privado de toda ligação simbólica; ele tende a instalar um sujeito unissexo e “não-engendrado”, isto é, sem o arrimo de seu fundamento exclusivamente no real, o da diferença sexual e da diferença geracional. [20]
No mais, o neoliberalismo econômico cumpre o trajeto pelo discurso da ciência e pelo deslizamento da democracia ao democratismo, do lugar do poder como lugar vazio ao lugar de poder como suscetível de ser ocupado por um sujeito. Da instituição à ausência dela. Da heteronomia à emancipação, se liberando de toda dívida para com o Outro – como, por exemplo, o Deus e o rei. [21]
Em linhas finais, a conclusão é de que, a despeito de tudo o que a sociedade viu no século XX, isto é, a tentativa de criação de novos sujeitos (proletariados, arianos etc.), o que o neoliberalismo está tentando forjar é, de fato, um novo sujeito. Assim, se pode concluir que o neoliberalismo pode ser tão maléfico à sociedade como foram ideologias totalizantes que surgiram e padeceram no século passado. É preciso resistir para que a sociedade não seja empurrada a um caminho sem volta: a criação e proliferação do homem mercadoria e totalmente acrítico.
3 O IMAGINÁRIO SOCIAL FRENTE AO ENTENDIMENTO DE LEBRUN
A partir do disposto por Baczko, o imaginário social se torna entendível e comunicável diante da produção dos “discursos”, nos quais e pelos quais se efetua a reunião das representações coletivas em uma linguagem. Os signos investidos pelo imaginário social correspondem a outros tantos símbolos. [22]
A construção do símbolo, assim como de um sistema de símbolos, que se mostram fortemente estruturados e dotados de notável estabilidade, bem como as relações entre imaginário e símbolo, constituem problemas tanto para os psicólogos como para os sociólogos do conhecimento. No mais, os símbolos parecem ser o intermediário entre o sinal e o signo, ou seja, concreto como o primeiro, e inscrito em uma constelação de relações como o segundo. [23]
Ademais, o signo objetiva mais do que o símbolo pode fazê-lo, e cada signo está inscrito em uma rede de signos, só adquirindo o seu significado em relação a eles. Por outro lado, o símbolo propõe tanto como o objeto as reações do sujeito diante esse objeto, os sistemas de símbolos não possuem a coerência própria as totalidades dos signos. A função do símbolo não é apenas a de instituir uma classificação, mas de introduzir valores, modelando os comportamentos individuais e coletivos e indicando as possibilidades de êxito dos seus empreendimentos. [24]
No mais, tinha razão Lacan ao afirmar que “a linguagem não é uma simples ferramenta, ela é o que subverte a natureza biológica do humano e faz nosso desejo depender da língua”, pois é através da utilização da linguagem – assim como dos sinais, signos e símbolos – que o sujeito consegue promover seu discurso e se expressar frente a sociedade. Tão logo tenho a potencialidade de falar, tenho de me confrontar com um mundo já organizado pela linguagem, e essa linguagem pode ser positiva ou negativa, não podendo se desfazer, pois habita no entendimento de determinada palavra. [25]
Assim, a linguagem é como um sistema no qual o indivíduo humano deve entrar se quiser assumir seu lugar entre os seus pares. Esse sistema de linguagem em si comporta regras, uma vez que é um sistema construído através de significantes – as palavras – que só valem por suas diferenças umas em relação as outras, e não enquanto tais. [26]
É pela palavra que o sujeito se liberta da opressão, toma distância em relação a ela e assim erige em si. [27] Outrossim, assevera Baczko:
Ora, só é possível comungar ou comunicar entre os homens através de símbolos exteriores aos estados mentais individuais, através de signos posteriormente concebidos como realidades. Um dos caracteres fundamentais do facto social é, precisamente, o seu aspecto simbólico. [28]
Além disso, a existência e as várias funções do imaginário social não deixam de ser observadas por todos indivíduos que se questionavam sobre os mecanismos e estruturas da vida social e, principalmente, por aqueles que verificavam a intenção efetiva e eficaz das representações e símbolos nas práticas coletivas – como, por exemplo, na governança de um poder por um chefe de Estado. [29]
Toda vez que um modelo de funcionamento da sociedade substitui outro ocorrem mudanças, assim como sempre que um poder instalado se vê destruído por outro, há um momento de abalo – o mesmo ocorre com a linguagem, e, consequentemente, com o Imaginário Social. Nesse toar, reflete Baczko:
Em qualquer conflito social grave – uma guerra, uma revolução – não serão as imagens exaltantes e magnificentes dos objetivos a atingir a dos frutos da vitória procurada uma condição de possibilidade da própria acção das forças em presença? Como é que podem separar, neste tipo de conflitos, os agentes e seus actos das imagens que aqueles têm de si próprios e dos inimigos, sejam estes inimigos de classe, religião, raça, nacionalidade, etc.? Não são as acções efetivamente guiadas por estas representações; não modelam elas os comportamentos; não mobilizam elas as energias; não legitimam elas as violências? Evoquemos sumariamente outro exemplo. Não será que o imaginário colectivo intervém em qualquer exercício do poder e, designadamente, do poder político? Exercer um poder simbólico não consiste meramente ema acrescentar o ilusório a uma potência “real”, mas sim em duplicar e reforçar a dominação efetiva pela apropriação dos símbolos e garantir a obediência pela conjugação das relações de sentido e poderio. Os bens simbólicos, que qualquer sociedade fabrica, nada tem de irrisório e não existem, efetivamente, em quantidade limitada. Alguns deles são particularmente raros e preciosos. A prova disso é que constituem o objeto de lutas e conflitos encarniçados e que qualquer poder impõe uma hierarquia entre eles, procurando monopolizar certas categorias de símbolos e controlar as outras. Os dispositivos de repressão que os poderes constituem põem de pé, a fim de preservarem o lugar privilegiado que a si próprios se atribuem no campo simbólico, provam, se necessário fosse, o carácter decerto imaginário, mas de modo algum ilusório, dos bens assim protegidos, tais como os emblemas do poder, os monumentos erigidos em sua glória, o carisma do chefe, etc. Limitámo-nos a lembrar alguns exemplos de uma problemática. Antes, porém, de abordar de modo mais sistemático, não é talvez inútil que nos interroguemos sobre a sua história. [30]
Ademais, parafraseando René Thom, uma mutação procede não tanto de um corte radical, ainda que nisso culmine, mas sobretudo de uma série de pequenas mudanças que se adicionam, pois o neoliberalismo só conseguiu tomar voz na sociedade atual através de uma série de outros regimes impostos – como, por exemplo, o fascismo e o nazismo - que canalizaram na força e no poderio dos governos neoliberais. Foi por intermédio de ideologias, de utopias, de símbolos, de rituais e de mitos que surgiu o governo neoliberal, se apoderando dos discursos e da linguagem de outros governos, formando um poderio vazio, individualista e cruel.
Assim, Baczko entra em encontro com Lebrun na utilização do conceito de Imaginário Social quando dispõe que é através do imaginário que se pode atingir as aspirações, os medos e as esperanças de uma população. É nele que as sociedades esboçam suas identidades e objetivos, detectam seus inimigos e, ainda, organizam seu passado, presente e futuro. O Imaginário Social se expressa, por exemplo, por meio de ideologias, de utopias, de símbolos, de alegorias, de rituais e de mitos. Tais elementos plasmam visões de mundo e modelam condutas e estilos de vida, em movimentos contínuos ou descontínuos de preservação da ordem vigente ou de introdução de mudanças. [31]
O homem é um ser de linguagem e, por isso, cada nova prática da linguagem traz transformações nas formas de simbolização. Isso aconteceu com o livro no Renascimento, e agora com a televisão.
O fato é que a televisão constitui um lugar ocupado por uma publicidade agressiva e, com a exposição excessiva de crianças, estas são ensinadas para o consumo e são estimuladas à cultura da mercadoria, sendo que esse é um dos primeiros efeitos na formação do futuro sujeito falante – e, principalmente, do sujeito neoliberal. Os publicitários sabendo disso entram na família, instalando marcas como referências para as crianças, que, por sua vez, fazem seus pais atenderem seus desejos, fazendo a máquina do mercado nunca parar. [32]
Outrossim, os meios de comunicação de massa, como, por exemplo, a televisão, garantem a um único emissor a possibilidade de atingir simultaneamente uma grande audiência, em uma escala até então desconhecida. De outra banda, os novos circuitos e meios técnicos amplificam extraordinariamente as funções performativas dos discursos difundidos e, nomeadamente, dos Imaginários Sociais que eles veiculam. [33]
A exposição excessiva da criança à imagem televisiva, em primeiro lugar, afeta o sentido secular das relações texto-imagem. A iniciação à prática simbólica deixou de ser a partir de textos – sejam orais, sejam escritos –, dos quais eram inferidas imagens. [34]
Com o primado do texto, as crianças, ao ouvirem uma história ou ao lerem um livro, imaginavam as cenas, se tornando seu primeiro espectador. A capacidade de imaginar, de criar as imagens, de criar um significado para o que é ouvido ou lido era um ponto chave da simbolização; e, ainda, é uma característica da espécie humana. [35]
Na sociedade atual, com a utilização demasiada dos meios tecnológicos, como, por exemplo a internet e a televisão, o simbolismo tomou outra vertente. Com a ascensão do neoliberalismo, a conduta de consumo exacerbado é imposta, com sujeitos consumidores esmorecendo atrás de um discurso e de uma política imposta, principalmente, através dos meios tecnológicos, por líderes de Estados apenas preocupados com o giro de capital e com o bom andamento do mercado. No mais, enfatiza Baczko:
Last but not least, as pesquisas sobre propaganda mostraram os meios técnicos e científicos de que as sociedades contemporâneas dispõem no domínio da produção e manipulação dos imaginários sociais. Os poderes que conseguem garantir controlo, senão o monopólio, destes meios apropriam-se assim de uma arma tanto mais temível quanto mais sofisticada. É difícil sobrestimar as possibilidades que se abrem, deste modo, as iniciativas de tipo totalitário que visam anular os valores e modelos formadores diferentes daqueles que o Estado deseja, bem como condicionar e manipular as massas, bloqueando a produção e renovação espontânea dos imaginários sociais. [36]
A informação está centrada na atualidade, sendo atomizada e fragmentada, ou seja, o acontecimento que é hoje posto em foco, amanhã será esquecido. Devido tanto a quantidade como a qualidade, esta massa de informações se presta particularmente as manipulações das emissoras. A sua transmissão impõe inevitavelmente uma seleção e uma hierarquização. [37]
Portanto, o Imaginário Social é uma das forças reguladoras da vida coletiva. É através dos Imaginários Sociais que uma coletividade designa sua identidade, elabora uma representação de si, estabelece a distribuição dos papéis e das posições sociais, exprime e impõe crenças comuns e constrói um código de “bom comportamento”, por exemplo. Assim é, pois, produzida uma representação global e totalizante da sociedade como uma ordem em que cada elemento encontra o seu devido lugar, a sua identidade e a sua razão de ser em uma sociedade. [38]
Isto posto, é graças a estrutura complexa do Imaginário Social que ele intervém em diversos níveis da vida coletiva de uma sociedade. O seu trabalho opera através de uma série de oposições que estruturam as forças efetivas que agem sobre a vida coletiva, unindo-as, por meio de uma rede de significações – tranquilizar/perturbar, mobilizar/desencorajar, incluir/excluir, por exemplo. [39]
Em suma, no neoliberalismo se está diante de uma assunção do individualismo. O Imaginário Social, com o decorrer dos anos, e com as mudanças no seu caráter simbólico tomou novos entendimentos, se enquadrando no linguajar e nos rituais de uma sociedade neoliberal, priorizando um discurso em prol do mercado, pois, como já evidenciava Baczko, “é preciso imaginação social para controlar o futuro” [40], fazendo isso através dos meios de comunicação.
CONCLUSÃO
O presente artigo tem como escopo demonstrar ao leitor uma análise sobre a utilização da linguagem a partir do Imaginario Social, e como ela se reflete perante ao neoliberalismo e todas as suas ferramentas de poder do sistema neoliberal. Ainda, a pesquisa trouxe uma breve análise do conceito de Imaginário Social, assim como do conceito de Imaginário Social, abrangendo como a linguagem se encontra e se entende diante de ambos.
Diante disso, buscou-se analisar o conceito de Imaginário Social, pois é através do imaginário que se pode atingir as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. É através do Imaginário Social que as sociedades esboçam suas identidades e objetivos, detectam seus inimigos e, ainda, organizam seu passado, presente e futuro. O Imaginário Social se expressa, por exemplo, por meio de ideologias, de utopias, de símbolos, de alegorias, de rituais e de mitos, e tais elementos plasmam visões de mundo e modelam condutas e estilos de vida, em movimentos contínuos ou descontínuos de preservação da ordem vigente ou de introdução de mudanças. A imaginação social, além de fator regulador e estabilizador, também é a faculdade que permite que os modos de sociabilidade existentes não sejam considerados definitivos e como os únicos possíveis, e que possam ser concebidos outros modelos e outras fórmulas.
Após, explanou-se a respeito do conceito de neoliberalismo que é uma alteração qualitativa da governamentalidade liberal ao longo de dois movimentos diferentes, mas inter-relacionados: mercado e concorrência, em primeiro lugar, não são mais representados como resultados naturais e autossustentáveis, mas como mecanismos que devem ser protegidos e cuidados pelo Estado. Além disso, os itens de marcador e de concorrência não estão mais limitados ao que tradicionalmente parecia ser economia, mas que todas as relações sociais devem ser sujeitas e reorganizadas de uma maneira que faça com que os mercados e as competições funcionem.
Destacou-se, ainda, a linguagem – uma forma de Imaginário Social – e como ela é imposta em uma sociedade neoliberal. Um dos grandes provedores da linguagem e do discurso neoliberal é a televisão, pois com a ascensão do neoliberalismo, a conduta de consumo exacerbado é imposta, com sujeitos consumidores esmorecendo atrás de um discurso e de uma política imposta, principalmente, através dos meios tecnológicos, por líderes de Estados apenas preocupados com o giro de capital e com o bom andamento do mercado.
Em suma, confirmou-se a importância no estudo do Imaginário Social e do neoliberalismo para demonstrar a importância da linguagem e do discurso em nossa sociedade. Por conseguinte, é imprescindível trazer à tona essa discussão, evidenciada por Lebrun e por Baczko, uma vez que é um tema que afeta a nossa sociedade que se torna cada dia mais individualista por meio dos discursos amplamente propagados por um governo preocupado apenas com o status econômico e com o mercado.
REFERÊNCIAS
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DI MARIO, Flavia. MICOCCI, Andrea. The fascist nature of neoliberalism. Nova York: Routledge, 2018.
DUFOUR, Dany-Robert. A arte de reduzir as cabeças: sobre a nova servidão na sociedade ultraliberal. Tradução de Sandra Regina Felgueiras. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2005.
LEBRUN, Jean-Pierre. A perversão comum: viver juntos sem outro. 1 ed. Rio de Janeiro: Campo Matêmico, 2008.
[1] LEBRUN, Jean-Pierre. A perversão comum: viver juntos sem outro. 1 ed. Rio de Janeiro: Campo Matêmico, 2008, p. 35.
[2] BACZKO, Bronislaw. A imaginação social. In: LEACH, Edmund et Alli. Anthropos-Homem. Lisboa: Imprensa Nacional, 1985.
[3] BACZKO, 1985.
[4] LEBRUN, 2008.
[5] LEBRUN, 2008.
[6] LEBRUN, 2008.
[7] DI MARIO, Flavia. MICOCCI, Andrea. The fascist nature of neoliberalism. Nova York: Routledge, 2018.
[8] DI MARIO E MICOCCI, 2018.
[9] DI MARIO E MICOCCI, 2018.
[10] DI MARIO E MICOCCI, 2018.
[11] DI MARIO E MICOCCI, 2018.
[12] DI MARIO E MICOCCI, 2018.
[13] DI MARIO E MICOCCI, 2018.
[14] DUFOUR, Dany-Robert. A arte de reduzir as cabeças: sobre a nova servidão na sociedade ultraliberal. Tradução de Sandra Regina Felgueiras. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2005.
[15] DUFOUR, 2005.
[16] DUFOUR, 2005, p. 118.
[17] DUFOUR, 2005.
[18] DUFOUR, 2005, p. 119.
[19] DI MARIO E MICOCCI, 2018.
[20] DUFOUR, 2005, p. 208.
[21] LEBRUN, 2008.
[22] BACZKO, 1985.
[23] BACZKO, 1985.
[24] BACZKO, 1985.
[25] LEBRUN, 2008.
[26] LEBRUN, 2008.
[27] LEBRUN, 2008.
[28] BACZKO, 1985, p. 306.
[29] BACZKO, 1985.
[30] BACZKO, 1985, p. 299.
[31] BACZKO, 1985.
[32] LEBRUN, 2008.
[33] BACZKO, 1985.
[34] LEBRUN, 2008.
[35] LEBRUN, 2008.
[36] BACZKO, 1985, p. 308.
[37] BACZKO, 1985.
[38] BACZKO, 1985.
[39] BACZKO, 1985.
[40] BACZKO, 1985, p. 296.
Doutoranda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mestra em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul(PUCRS) e bacharela em Direito pela Fundação Escola Superior do Ministério Público (FMP).
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: LINCK, Lívia do Amaral e Silva. O neoliberalismo e a linguagem: uma análise do imaginário social Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 10 jan 2020, 04:40. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/54117/o-neoliberalismo-e-a-linguagem-uma-anlise-do-imaginrio-social. Acesso em: 22 nov 2024.
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