RESUMO: Os papéis antagônicos que a inteligência artificial (IA) pode exercer sendo ora aliada sendo ora adversária no combate ao cybercrime. São apresentadas opiniões de diversos especialistas técnicos na área de prevenção e investigação de crimes digitais que utilizando de situações reais, em segmentos distintos da sociedade, apontam as mais diversas aplicabilidades da IA.
Palavras-Chave: Inteligência Artificial, Cybercrime, Tecnologia.
ABSTRACT: The antagonistic roles that artificial intelligence (AI) can play being sometimes allied with being now opposing in the fight against cybercrime. Opinions of various technical experts in the area of prevention and investigation of digital crimes are presented. Using real situations, in different segments of society, they point out the most diverse applicability of AI.
Key words: Artificial Intelligence, Cybercrime, Technology.
SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO. 2 DESENVOLVIMENTO. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS. REFERÊNCIAS.
1. INTRODUÇÃO
Como cidadãos cada vez mais conectados, dinâmicos, com interesses, serviços e experiências on-line fundidos de maneira indistinguível, testemunhas da evolução tecnológica disruptivas do espaço antes dominado pelos Computadores Pessoais – PC, perpassando para os notebooks, sucessivamente aos tablets e, em curto intervalo de tempo, todas preteridas pelos smartphones, e, recentemente, a vinda da Internet das Coisas (IoT), oportunizamos, significativamente, um vasto campo fértil a ser explorado para construções de soluções das mais variadas possíveis.
Neste emaranhado de solo fértil encontra-se a inteligência artificial – IA, uma tecnologias que, grosso modo, possibilita que sistemas físicos e baseados em software aprendam como as coisas acontecem em um determinado ambiente, adaptando-se a isso de forma autônoma.
Quanto mais a tecnologia evolui, mais barata e fácil fica a construção de algoritmos de inteligência artificial para as mais variadas aplicações como, por exemplo, a área financeira que a tempos se beneficiam dos modelos matemáticos de aprendizagem automática para aperfeiçoar a detecção de códigos maliciosos, reconhecendo novas variantes e gerando o mínimo de alarmes falsos, e as redes sociais, Instagram e Facebook, com coletas de muitos dados pessoais possibilitando montar os mais diversos quebra-cabeças, gerando informações úteis para analisar vários fatores de risco.
A facilidade é aproveitada tanto para o bem quanto para o mal, e em segurança cibernética, como lembra Taurion, o mal costuma sempre estar um passo à frente.
2. DESENVOLVIMENTO
A associação do crescimento do número de dispositivos conectados, do excesso de confiança dos internautas, do aprimoramento da abordagem de ataques direcionados, inteligentes e bem-sucedidos engendrados pelos cibercriminosos, de acordo com o relatório da Norton Cyber Security Insights Report, em 2017, ocasionaram prejuízos na grandeza financeira de US$ 172 bilhões prejudicando mais de 978 milhões de consumidores em 20 países. O Brasil saltou da 4ª para a 2ª posição no ranking de países que mais sofreram crimes cibernéticos.
A tendência, segundo especialistas, para enfrentar a sofisticação e avanços do cibercrime, é o uso de abordagens de segurança que combinam detecção automática de ameaças, analise de comportamentos anômalos e o uso de inteligência artificial. É o que especialistas chamam de segurança AAA (automation, analytics, artificial intelligence.)
Pautando, a grosso modo, ao termo Inteligência Artificial, trata-se, conceitualmente, a uma tecnologia que, possibilita que sistemas físicos e baseados em software aprendam como as coisas acontecem em um determinado ambiente, adaptando-se a isso de forma autônoma.
De acordo com o Gartner, onde houver aplicação de conceitos como aprendizagem profunda (deep learning), redes neurais (neural networks) e processamento de linguagem natural (natural-language processing), haverá inteligência artificial.
Segundo o consultor Cezar Taurion, sócio e head de transformação digital da Kick Ventures, a proliferação de ferramentas com recursos de inteligência artificial ocorre na esteira de grandes ondas tecnológicas, como big data e computação em nuvem. Com elas, capacidades inéditas de processamento e de armazenamento de dados ficaram mais acessíveis. Em suas palavras, quanto mais a tecnologia evolui, mais barata e fácil fica a construção de algoritmos de inteligência artificial para as mais variadas aplicações(TAURION, 2019).
A facilidade é aproveitada tanto para o bem quanto para o mal, e em segurança cibernética, como lembra Taurion, o mal costuma sempre estar um passo à frente. Taurion ressalta que existem inúmeras comunidades virtuais de hackers que usam algoritmos de inteligência artificial em ambientes de nuvem, tanto para identificar e atacar vulnerabilidades quanto para impedir que as agressões sejam detectadas.
Do lado positivo na utilização da inteligência artificial percebe-se a mesma sendo utilizada no combate ao bullying em substituição aos moderadores humanos na leitura de posts automatizando a detecção de algum problema.
Neste sentido, a equipe de Jacbos criou um algoritmo de aprendizado de máquina para identificar palavras e frases associadas ao bullying no site de mídia social AskFM, que permite aos usuários fazer e responder perguntas. Relata que o sistema conseguiu detectar e bloquear quase 2/3 dos insultos em quase 114 mil postagens em inglês sendo mais preciso do que uma simples pesquisa de palavras-chave, mas, ainda assim, teve dificuldades com comentários sarcásticos.
O Instagram, rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários, também vem usando a inteligência artificial para detectar bullying em comentários, fotos e vídeos e recentemente começou a usar o aprendizado de máquina para rastrear ataques verbais a usuários e ameaças contra indivíduos em comentários e fotos.
Para casos de assédio sexual, conforme preconizado na Wikipédia, em sentido estrito, “é um tipo de coerção de caráter sexual praticada geralmente por uma pessoa em posição hierárquica superior em relação a um subordinado, normalmente em local de trabalho ou ambiente acadêmico” (WIKIPÉDIA, 2015), o emprego da inteligência artificial, Julia Shaw, psicóloga da University College London e co-criadora da Spot, lança um ferramenta nominada chatbot inteligente Spot com o intuito de proporcionar ajuda as vítimas a relatar suas experiências de assédio no local de trabalho com precisão e segurança. O sistema gera um 'interrogatório' com registro de data e hora que o usuário pode manter arquivado ou enviar ao seu empregador, anonimamente, se necessário, transformando uma lembrança em evidência o que torna muito mais difícil lançar dúvidas sobre os fatos narrados.
Assim como a ferramenta anterior, o Botler AI vai um passo além, fornecendo conselhos a pessoas que foram assediadas sexualmente. Usando informações de mais de 300 mil processos judiciais nos Estados Unidos e no Canadá, o sistema usa o processamento de linguagem natural para avaliar se um usuário foi vítima de assédio sexual aos olhos da lei e gera um relatório do incidente, que pode ser entregue ao departamento de RH da empresa ou à polícia.
O Facebook também treinou seus algoritmos para identificar padrões de palavras tanto no post principal quanto nos comentários para ajudar a confirmar casos de desejo suicida. Isso é combinado com outros detalhes, como se as mensagens são postadas nas primeiras horas da manhã. Todos esses dados são canalizados para outro algoritmo que é capaz de descobrir se a postagem de um usuário do Facebook deve ser revisada pela equipe de Operações Comunitárias do Facebook, que pode disparar o alarme se achar que alguém está em risco.
O Facebook não é a única empresa que analisa texto e comportamento para prever se alguém pode estar passando por problemas de saúde mental. Maria Liakata, professora-associada da Universidade de Warwick, no Reino Unido, está trabalhando na detecção de mudanças de humor em posts de mídias sociais, mensagens de texto e dados de telefones celulares.
Embora essa iniciativa possa aumentar as preocupações com a privacidade, milhares de pessoas já estão compartilhando de bom grado seus pensamentos mais profundos com os aplicativos de IA em uma tentativa de combater a depressão, que é um indicador do suicídio.
A Embratel, ao criar o Cyber Intelligence, que antecipa possíveis ataques cibernéticos contra estruturas de TI e telecom das empresas. Mário Rachid, diretor executivo de soluções digitais da Embratel, explica que, com técnicas avançadas, é possível monitorar o que acontece no tráfego da rede, nas redes sociais, na internet das coisas (IoT) e no submundo da web, para detectar movimentos suspeitos. Segundo ele, as empresas são avisadas imediatamente sobre movimentos indevidos e sobre as melhores estratégias de defesa.
Do lado negativo na utilização da inteligência artificial, segundo o McAfee Labs, divisão de pesquisa de ameaças da Intel Security, o golpe de e-mail de phishing conhecido como Business Email Compromise (BEC), ou CEO fraud, combina algoritmos de machine learning com manipulação psicológica (técnica conhecida como engenharia social), impedindo que as vítimas percebam que estão sendo hackeadas.
A empresa de segurança japonesa Trend Micro relata que os ataques por crimes cibernéticos se tornaram cada vez mais complexos e perigosos. A tecnologia da IA fez grandes avanços, integrados no combate a crimes de alta tecnologia, mas também aumentou inadvertidamente as campanhas ofensivas dos hackers.
A Symantec advertiu que a IA poderia se tornar a chave para a guerra. Os invasores explorarão o sistema de IA para suportar ataques, e as empresas dependerão cada vez mais da inteligência artificial para combater ataques e identificar vulnerabilidades de segurança. Assim, os hackers podem destruir automaticamente os sistemas corporativos baseados em IA. Eles também exploram redes e procuram novas vulnerabilidades.
Segundo o Sr. Nguyen Huy Dung, Diretor Adjunto do Departamento de Segurança da Informação (Ministério da Informação e Comunicações), no contexto da revolução industrial 4.0, uma nova ameaça está surgindo da plataforma de IA. Anteriormente, os hackers eram pessoas específicas, mas hoje em dia os hackers também podem ser sistemas baseados em sistemas de inteligência artificial, executando ataques automatizados em outros sistemas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste artigo em que se pautua uma grande variedade de exemplos de aplicações concretas de utilização da Inteligência Artificial (IA), nos mais variados segmentos de atuação, percebe-se, claramente, que a utilização massiva de dados pessoais em processos e algoritmos capazes de tomar decisões proporcionam significativos avanços positivos, ao mesmo tempo em que podem discriminar e causar danos se a esse propósito for investido.
A Inteligência Artificial, na percepção de especialistas técnicos, trata-se de tecnologia de propósito geral, ela transforma todos os campos em que entra e opera, da saúde ao transporte, da indústria à educação.
Como parte integrante e cada vez mais determinante da vida quotidiana, é necessário assegurar que a IA siga um desígnio protetivo e produtivo em detrimento de desvios maliciosos, repressivos e criminosos forjados pelos cybercriminosos, pois a IA tem a virtualidade de trazer benefícios para os indivíduos e para a sociedade.
REFERÊNCIAS
Aplicação de IA é negligenciada em pesquisa de segurança cibernética. CIO, 2019. Disponível em: <https://cio.com.br/aplicacao-de-ia-e-negligenciada-em-pesquisa-de-seguranca-cibernetica/>. Acesso em:01 de julho de 2019.
CANGIANO, Antônio. Crime cibernético na economia digitalizada. DM, 2017. Disponível em: <http://www.dm.com.br/opiniao/2017/04/crime-cibernetico-na-economia-digitalizada.html>. Acesso em:01 de julho de 2019.
CRESPO, Marcelo. Inteligência artificial e crimes: estamos caminhando para uma Skynet?. Jurisbrasil, 2016. Disponível em: <https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/317928636/inteligencia-artificial-e-crimes-estamos-caminhando-para-uma-skynet>. Acesso em: 01 de julho de 2019.
Crime digital usa Inteligência Artificial para otimizar ataques. OlharDigital, 2018. Disponível em: <https://olhardigital.com.br/fique_seguro/video/crime-digital-usa-inteligencia-artificial-para-otimizar-ataques/73290>. Acesso em: 01 de julho de 2019.
Custo com crimes virtuais é maior no setor de Serviços Financeiros. SECURITY REPORT, 2018. Disponível em: <http://www.securityreport.com.br/destaques/custo-com-crimes-virtuais-e-maior-no-setor-de-servicos-financeiros/#.Xoxb35x7kWM>. Acesso em:01 de julho de 2019.
Inteligência artificial no auxílio à prevenção de crimes. PORTALMIE, 2018. Disponível em: <https://www.portalmie.com/atualidade/noticias-do-japao/tecnologia/2018/02/inteligencia-artificial-no-auxilio-prevencao-de-crimes/>. Acesso em:01 de julho de 2019.
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PERES, Fernando. Inteligência Artificial: Guiada para o Bem. PERES, 2018. Disponível em: <http://peres.adv.br/direitodigital/clipping/inteligencia-artificial-guiada-para-o-bem/>. Acesso em:01 de julho de 2019.
Analista do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Bacharel em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO (2009), graduado em Gestão Pública pela Universidade de Franca – UNIFRAN – Cruzeiro Do Sul (2018) e em Processamento de Dados pelo Centro de Ensino Superior – CES-JF(2000), especialista em Cybercrime e Cybersecurity pelo Instituto Brasileiro de Formação – IBF (2019), em Perícia Forense Aplicada à Informática pela Faculdade Integrada - AVM (2014) e Redes de Computadores pelo Centro de Ensino Superior – CES-JF(2001).
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: PAIVA, Rodrigo Otávio Xavier de. Inteligência artificial: aliada ou adversária no combate ao cybercrime Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 30 jan 2020, 04:30. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/54197/inteligncia-artificial-aliada-ou-adversria-no-combate-ao-cybercrime. Acesso em: 22 nov 2024.
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